Dissertação - Dori Alves Júnior
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Dissertação - Dori Alves Júnior
UNIVERSIDADE DE BRASILIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA A Relação Mídia–Esporte: um estudo das mensagens esportivas na televisão e seus efeitos na prática da Educação Física escolar, na percepção do professor. Dori Alves Júnior BRASÍLIA 2008 A Relação Mídia–Esporte: um estudo das mensagens esportivas na televisão e seus efeitos na prática da Educação Física escolar, na percepção do professor DORI ALVES JÚNIOR Dissertação apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação Física. ORIENTADOR: Dr. ALDO ANTONIO DE AZEVEDO ii Dori Alves Júnior A Relação Mídia–Esporte: um estudo das mensagens esportivas na televisão e seus efeitos na prática da Educação Física escolar, na percepção do professor Presidente: Membro Externo: Professor Doutor Aldo Antonio de Azevedo Universidade de Brasília Professor Doutor Paulo Roberto Corbucci IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas Membro: Professor Doutor Alfredo Feres Neto Universidade de Brasília Membro Suplente: Professora Doutora Ingrid Dietrich Wiggers Universidade de Brasília iii Agradecimentos A Deus, pela dádiva da vida e da aprendizagem. A minha esposa, Telma Valquíria, aos meus filhos, Gabriela e João Rafael, a minha mãe, Maria Vanildes, com amor, carinho, pelo apoio, tolerância e compreensão neste período de estudos. Ao professor Dr. Aldo Antonio de Azevedo, meu orientador, pela paciência e dedicação com que sempre me auxiliou. Aos membros da Comissão Examinadora, pelo empenho, leitura e crítica deste trabalho. A todos que contribuíram para a implantação do Mestrado em Educação Física da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, em especial aos professores Drª Ana Cristina, Drª Dulce Suassuna e Dr. Martim Botaro, pela grande melhoria do ensino e pesquisa na área que certamente virá. Aos professores da Pós-Graduação em Educação Física, pela qualidade e excelência na condução das disciplinas. Aos professores de Educação Física, sujeitos desta pesquisa nos Grupos Focais, pelo tempo dedicado e pela grande contribuição dada à pesquisa. Aos autores das diversas áreas, que com seus escritos contribuíram para o desenvolvimento deste estudo. A todos os servidores da Faculdade de Educação Física, pela solicitude nos atendimentos, em especial a Alba Célia, pela excepcional ajuda nas questões burocráticas e pela gentileza com que sempre nos atendeu. A todos os parentes, amigos e colegas de trabalho que de alguma forma contribuíram para a realização desta pesquisa. iv Sumário Página INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1 Capítulo I........................................................................................................................ 5 Televisão, Esporte e Educação Física......................................................................... 5 1.1 A contribuição da televisão para o desenvolvimento do esporte moderno.... 8 1.2 A televisão na educação e na educação física como ferramenta de i ntervenção crítica ...................................................................................... 12 1.3 O fenômeno esportivo e a mídia: história e relações .................................. 15 CAPÍTULO II................................................................................................................. 18 A globalização, a indústria cultural e os meios de comunicação de massa e o fenômeno esportivo ................................................................................................... 18 2.1 O Processo de globalização e a mercantilização no esporte ...................... 18 2.2 Globalização, cultura, esporte e mídia ........................................................ 23 2.3 Indústria cultural .......................................................................................... 26 2.4 Os meios de comunicação de massa.......................................................... 28 Capítulo III ................................................................................................................ 34 Campo Metodológico................................................................................................. 34 3.1 Descrição dos procedimentos de pesquisa e coleta de informações .......... 34 Capítulo IV ................................................................................................................ 39 Contexto da pesquisa: análise qualitativa das informações obtidas a partir dos grupos focais ...................................................................................... 39 4.1 Resumo das reportagens exibidas .............................................................. 39 4.2 Análise qualitativa das informações obtidas a partir dos grupos focais....... 43 Conclusão ................................................................................................................. 72 Referências.................................................................................................................. 75 v LISTA DE SIGLAS ATP – Association of Tennis Professionals BBC – British Broadcast Corporation ESEFEGO – Escola Superior de Educação Física de Goiás EU A – Estados Unidos da Am érica NB A – National Basketball Association RC TV – Rádio Caracas Televisión SESI – Serviço Social da Indústri a UCB – Universi dade Católica de Brasília UFBa – Universidade Federal da Bahia UFG – Universidade Federal de Goiás UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UFV – Universidade Federal de Viçosa UnB – Universidade de Brasília URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas vi Resumo A Relação Mídia–Esporte: um estudo das mensagens esportivas na televisão e seus efeitos na prática da Educação Física escolar, na percepção do professor Autor: Dori Alves Júnior Orientador: Dr. Aldo Antoni o de Azevedo O presente estudo tem por objetivo analisar no discurso de professores de Educação Física que atuam em escolas públicas do DF, referências e comentários acerca de m ensagens esportivas veiculadas pela televisão, que possibilitem sua inserção em aulas de Educação Física. O referencial teórico de base envolve estudos sobre a mídia, o esporte e a Educação Física na escola, com o objetivo de focalizar e relacionar esses fenôm enos no campo científico. A partir de um a investigação com a utilização da técnica de pesquisa dos Grupos Focais, foram coletadas informações de professores de Educação Física de escolas públicas do Distrito Federal, que também são alunos do Curso de Especialização em Educação Física Escolar da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília – UnB. Os resultados da pesquisa demonstram que alguns professores já inseriram o estudo reflexivo da mídia em sua prática cotidiana na escola, mas de forma ainda pontual e não sistem ati zada. Apontam, também, a existência de contradições e possibilidades pedagógicas nas mensagens esportivas da televisão. Palavras-chaves: Educação Física, Esporte, Televisão vii Abstract The Link Media-Sport: a study of the messages in television sports and their effects in practice Physical Education school, in the perception of teacher The present stud y has for objective to analyze in the discourse of Physical Education teachers who work in public schools of the DF, references and commentary on sports broadcast messages on TV, which enable their integration into classes of Physical Education. The theoretical referential of base involves studies about the media, the sport and physical education on the school, for objective to focalize and to relate those phenomenon in the scientific field. Starting from an investigation with the use of the research technique of the Focal Groups, physical education teachers of the public schools from Distrito Federal information were collected, that are also students of the Course of Specialization in Physical Education School, in Physical Education University, of the University of Brasília–UnB. The results of the research demonstrate that som e teachers already inserted the reflexive study of the m edia in your daily practice in the school; but, still, in way punctual and not system atized. They point, too, the existence of contradictions and pedagogic possibilities in the sporting messages of television Keywords: Physical Educati on, Sports, Television,. 1 INTRODUÇÃO Atualmente é possível perceber o grande apel o do esporte de rendim ento na mídia, com grande ênfase na técnica e na competição, o que de certo m odo contraria aos ideais de cooperação e participação necessári os à prática da Educação Física escolar. Dado que há uma clara dicotom ia entre o esporte de rendim ento (aquele visto na mídia) e o esporte educaci onal (conteúdo da Educação Física escolar), faz-se necessário que no ambiente escolar o esporte sej a inserido de forma l údica e pedagógica, e não essencialmente competitiva. Além disso, é imprescindível entender a relação entre Educação Física escolar e mídia, de forma a permitir que os prof essores reflitam se estão agindo com o educadores ou treinadores e, portanto, possam adequar sua prática aos ideais de uma educação cidadã, em que em ancipação, superação, cooperação e participação (valores imprescindíveis ao desenvolvimento pleno do ser hum ano) estejam em primeiro plano. O interesse pelo tema surgiu já na época do curso de graduação em Educação Física, na Faculdade de Educação Física da UnB, em decorrência de não ter havido nenhum a abordagem sistemática do tema mídi a esportiva, mas apenas alguns estudos isol ados sem perspectivas reais de aprofundamento. Essa ausência do tema na graduação causa um certo vazio na formação profissional e acadêmica dos graduandos em Educação Física. Tal interesse tam bém se justifica pelo fato de gostar de tel evisão, tanto como telespectador quanto como crítico das mensagens, e, além disso, por acreditar que, a partir de um entendimento crítico, é possível extrair mensagens relevantes da program ação televisiva. Para isso é necessário compreendê-la na sua essencialidade. Esse desejo de fazer uma leitura crítica da mídia esportiva, associado à ref erida ausência 2 de análise da mídia no curso de graduação explicam nossa intenção de estabelecer relações entre a mídia esportiva e a Educação Física na escola. À época do curso de Especialização em Aspectos TeóricoMetodológicos da Pesquisa em Educação Física, pela Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, entre os anos de 2004 e 2005, optamos por pesquisar o tema Os efeitos da mídia esportiva, com destaque para a televisão, na Educação Física escolar. Por meio de uma pesquisa bibliográfica e de uma pesquisa de campo, com a aplicação de questionários a professores e alunos de Educação Física dos ensinos fundam ental e m édio de algumas escolas da rede pública de educação na Região Administrativa de Taguatinga-DF, desenvolvem os uma i nvestigação preliminar sobre o tem a. A parti r dessa investigação, produzimos o texto Implicações da veiculação de jogos e programas esportivos pela televisão, na prática da Educação Física, a partir da percepção de professores e alunos de escolas públicas de Taguati nga-DF, que foi, posteriormente, apresentado no IV Telecongresso Internacional de Educação de Jovens e Adultos, em outubro de 2005 no SESI, e no V Congresso Centro-Oeste de Ciências do Esporte em junho de 2006. Para o novo projeto de pesquisa apresentado no Mestrado do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação Física da Universi dade de Brasília, seguimos pesquisando acerca do mesmo tema e propusemos então o seguinte problema de pesquisa para este estudo: “Em que medida o professor de Educação Física do DF t em-se apropriado, de forma crítica, das mensagens esportivas veiculadas pela tel evisão?” A partir desse problema, apontam os com o objetivo geral: analisar, no discurso de professores de Educação Física que atuam em escolas públicas do DF, referências e comentários acerca de mensagens 3 esportivas veiculadas pela televisão, que possibilitem sua inserção em aulas de Educação Física. E, com o objetivos específicos, verificar a possibilidade de inserção do tema mídia, em especial da televisão, nas aulas de Educação Física, numa perspectiva crítica, e apontar valores e possíveis contradições presentes no conteúdo do discurso. Assim o presente estudo está estruturado em cinco capítulos, descritos a seguir: • O Primeiro Capítulo, denominado Televisão, Esporte e Educaçã o Física, apresenta um breve histórico das primeiras transmissões esportivas pela TV e do desenvolvimento econômico da relação entre TV e esporte. Citam-se alguns autores da Educação Física que a partir da década de 90 iniciaram seus estudos no campo da mídia, assim como a necessidade de aprofundamento neste cam po de pesquisa e a inclusão do tema mídia na grade de disci plinas da escola, em especi al na disciplina Educação Física. Traz ainda um breve histórico do f enômeno esportivo. • O Segundo Capítulo, intitulado A Globalização, a Indústria Cultural, os Mei os de Comunicação de Massa e o Fenômeno Esportivo, traça um a breve gênese da globalização e da sua relação com o fenômeno esportivo, discute a mercantilização do esporte e as implicações econômicas e sociais desta relação entre esporte e globalização. Aborda ainda a questão da Indústria Cultural e suas implicações no esporte e na cultura nacional, além de uma discussão dos Meios de Comunicação de Massa, baseada no livro Simulacro e Poder: uma análise da mídia (2006), de Marilena Chauí. • O Terceiro Capítulo, Campo Metodológico, descreve os procedimentos de coleta e análise dos dados, • No Quarto Capítulo, Contexto de Pesquisa: análise dos discursos obtidos a partir dos grupos focais, apresenta-se uma análise de 4 alguns trechos dos depoimentos que possam responder ao nosso problem a e validar nossa hipótese de pesquisa. • Por fim, apresentamos nossas conclusões e considerações gerais do estudo, assim com o novas perspectivas e possi bilidades de pesquisa no cam po da Mídia e da Educação Física. 5 Capítulo I Televisão, Esporte e Educação Física O esporte com o forma de movimento e manifestação cultural tem um indiscutível alcance soci al, econômico e político. Todos, de algum modo, interagimos com o esporte, seja praticando-o ou assistindo-o. O esporte moderno tem hoje a mídia — em especi al a tel evisão — com o uma de suas grandes divulgadoras, financiadoras e incentivadoras. A televisão é um a fonte inesgotável de form ação e informação, está presente na m aioria das casas no Brasil e no mundo. Contudo, considerando seu extrem o poder de alcance, devemos estar atentos a suas mensagens e imagens. Acerca dessa questão, é elucidativa a posição de Penteado (1991), ao afirmar que: De v i do às c o nt r a d içõ e s que e nc e r r a, a t e le v is ã o tem imp r es s io n a do m ais p e lo la d o d e r e f or ç o d o st a t u s q u o , a se r v iç o d o q u a l e x is t e, do q u e pe lo la d o t r an s f or m a d o r ( p . 3 3 ) . A grande exposição do esporte de rendimento na mídia, principalmente na televisão, tem um papel decisivo para a sua massificação e, com o conseqüência, para a sua prática, por algumas crianças, com objetivos não apenas de entretenimento. Com o lem bra Betti (1998), [ .. . ] às c r ia n ç as q u e s e in ic i a m n o es p or t e , o s r e p ó r t e r es s e mpr e in d a ga m c o m b a s e n a s r es p os t a s q ue es p e r a m: E u q u e r o s e r u m Ro m ár io, u m a H o r t ê nc ia , g an h a r m uit o d in he ir o , ch e g a r à s e l eç ã o b r as ile ir a . N un c a s ã o c r ia n ç as qu e br i nc a m, m a s a g e r a ç ã o d o f u t ur o , o s cr a q u e s d e am a nh ã, os a t le t as d o a n o 2 0 0 0. ( p. 9 1) 6 Uma questão importante a ser discutida na escola e nos cursos de f orm ação de professores de Educação Física é a perda do caráter educativo e lúdico do esporte para uma lógica mercadológica. Nesta perspectiva, o esporte deixa de ser uma ferramenta interessante de educação coletiva e passa a ser prática de poucos, acarretando a exclusão de muitos no am biente escolar. Em relação a tal discussão, concordamos com Kunz (2001), quando ela considera que, por meio da importância dada ao esporte de rendim ento na escola, evidenciaremos diversas histórias de insucesso escolar, pois nesse universo percebe-se que a m aioria dos alunos não possui talento especial para o esporte de rendimento. Esse não deve ser motivo para que os alunos sejam excluídos da participação das aulas de Educação Física, pois neste ambiente o esporte deve ter uma lógica educacional. Eventos esportivos como a Copa do Mundo de Futebol, os Jogos Olímpicos e outros diversos m obilizam um verdadeiro exército de profissionais da mídi a televisiva, dentre os quais técnicos, jornalistas, locutores, com entaristas e outros. Diante desse quadro, é necessário compreender e analisar de forma crítica, o que está por trás do discurso midiático 1 via TV e do interesse econômico pelo esporte. De acordo com Eco (2004, p. 325), a tel evisão é um dos fenômenos básicos da nossa civilização; é preciso, portanto, não só encorajá-la nas suas tendências mais válidas, com o tam bém estudá-la nas suas manifestações. 1 S e gu n do P ir es ( 2 0 0 1 , p . 3 6 ) d is c u r s o m id iát ico é a e x pr e ss ã o ca r a ct e r í s t ic a d a lin g ua g e m – im a gé t ic a, s o no r a e s im b ó l ic a – d os me i o s d e c o mu n ic aç ão d e m a s sa , a t r av é s d a q u a l c o n se g u em sil e n c iar , pu b lic iz ar o u r ec r ia r e vid ê nc ia s, f at os o u e xp ec t a t iv as q u e c o n s t it u e m a c o t id ia n id a d e d a c u lt ur a c o n t em p or â n e a , a pa r t ir d os in t e r es s e s id e o ló g ic o s d a so c ied a d e . 7 Onde se insere, então, a Educação Física com o prática pedagógica, tendo o esporte como um de seus principais conteúdos? Como se apropriar de forma crítica das mensagens oferecidas pela tel evisão e pelo esporte espetacularizado? Os cursos de licenci atura em Educação Física estão formando prof essores habilitados a intervir e atuar nesse contexto? Essas são algumas das questões que discutirem os nesta dissertação. No campo da pesquisa em Educação Física, diversos estudos — dentre os quais Pires (2002), Betti (1998, 2003), Batista (2000), Oliveira (2004) e Feres Neto (2001) — apontam para a necessidade de a Educação Física incorporar o tema mídias como ferramenta de ensino. Porém, deve-se destacar a necessi dade de não se adotar um a visão “apocalíptica” nem tampouco um a visão “integrada” do problem a, conform e terminologia já clássica de Eco (2004), que apontava, nos primeiros, uma posição de extrem o ceticismo em relação aos m eios de comunicação de m assa, considerando-os elem entos de propagação das idéias da classe dominante; e, nos últimos, identificava um a posição de total ingenuidade, já que consideravam a televisão com o um elemento democrático de divulgação da cultura às massas. É necessário, portanto, adotar uma postura crítica frente às mensagens audiovisuais. De acordo com Pires (2002, p. 129), a restrição do processo educacional à dimensão da competência técnica implica a hi pertrofia do pólo adaptativo de formação cultural, negando o desenvolvimento do seu potencial crítico-transformador. Então, é necessário ao professor de Educação Física adaptar seu espaço de aula e sua aula propriamente dita a uma transformação didático-pedagógica do esporte, rumo a uma prática que i ncorpore valores soci ais, afetivos, culturais, cognitivos e, ainda, o desenvolvimento de habilidades motoras, respeitando a individualidade do aluno. 8 Estudos com o os de Férres (1996) e Penteado (1991), dentre outros, indicam possíveis caminhos a serem seguidos ao adotar a tem ática televisão na escola. Esses autores não tratam especificamente da Educação Física, mas da educação para mídi a em um contexto geral, o que não nos impede, porém, de i nserir nossa disciplina nesta discussão. Segundo Bourdieu (1997, p. 23), “a Televisão tem um a espécie de monopólio de fato sobre a formação das cabeças de um a parcela m uit o importante da população”. A educação, por sua vez, tanto pode ser uma f erramenta de superação desse monopólio de formação, como, ao contrário, pode ser tam bém um meio de manutenção desse monopólio. A discussão sobre a mídia, o esporte e a Educação Física é algo recente, porém autores como Betti (1997), Pires (2001), Durães (2002), Trindade (2003), Oliveira (2004), Leiro (2004) e Feres Neto (2001), dentre outros, têm desenvolvido suas teses de doutoramento e dissertações de mestrado sobre esse tema, e utilizaram diversos autores da sociologia, da filosofia, da comunicação e da educação, dentre outras áreas das Ciências Sociais, para fundamentar suas proposições. Este trabalho pretende contribuir para a discussão nesse cam po de pesquisa. 1.1 A contribuição da televisão para o desenvolvimento do esporte moderno O esporte moderno surge à luz da Revolução Industrial e do surgimento do Capitalismo no final do século XVIII, na Inglaterra, conform e propõem al guns autores, baseados principalmente nas teorias marxistas, e se desenvolve a partir de um a lógica de mercado e da mundialização da cultura, o que se acentua ao longo do século XX, com a globalização e a indústria cultural. 9 É a partir do surgimento da televisão, em 1936, que a espetacularização do esporte começa a t er espaço em diversos países. Segundo Betti (1998, p. 32), as Olimpíadas de Berlim em 1936 foram tel evisionadas para os presentes no local. Em 1937, a BBC inglesa tel evisionou pela primeira vez o torneio de tênis de W imbledon, e em 1940 uma partida de beisebol foi transmitida nos EUA. Porém, todas essas transmissões ainda contavam com públicos isolados na Europa e nos EUA. Só em 1950 os eventos esportivos são incluídos nas grades de program ação das emissoras de TV. Ao mesmo tem po em que a televisão passa a estar presente de forma crescente nos lares em todo o mundo, o esporte assum e, cada vez m ais, a feição de m ercadoria. Aliado a tal fato, Collem an (1989, p.32) afirmou que as décadas de 1920 e 1930 representaram um divisor de águas para os esportes modernos, já que nessa época se observou tant o um dram ático aumento das massas populares e do núm ero de espectadores em eventos esportivos, quanto o progresso dos m eios de comunicação em relação ao esporte (primeiro o cinem a, depois o rádio e, em seguida, a televisão). As transmissões das Copas do Mundo de Futebol e dos Jogos Olímpicos Internacionais, primeiro vi a emissora de rádio e posteriormente via emissoras de televisão, tornaram-se filões com investimentos cada vez maiores por parte da indústria m idiática a partir da década de 50, o que, é claro, fez crescer consideravelmente o lucro de tais em presas. À medida que investem na transmissão de jogos, campeonatos e programas esportivos, diversas m odalidades esportivas passam a ter maior visibilidade na sociedade. Segundo Moraes (1998): O s no v o s p a d r õ es id e n t it ár io s p a ss a m a t e r í nt im a r e la ç ã o c o m a a st ú c ia da s mí di as a o mo d er a r e m p s ic olo g ias [ . . . ] A I d ola t r ia 10 e xp a n d e - s e n a ex a t a p r o p or ç ão em q u e o es p o r t e e m e r ge c o m o p ar t e da in d ús t r ia cu lt u r a l e, por c o n se q ü ên c ia, em n ic h o e co n ô m ic o n o m er c a d o mu n d ia l. E m m e t r óp o l es c h in e s a s, os g ar o t os jo g a m ba s q u e t e d iar i a me nt e , t r o c a m ca m is a d o Ma o T s e Tu n g p e las c a mise t a s do C h ic a g o B u lls e n ão s e ca ns a m d e a ss is t ir a v í d eo s e sp o r t iv os d e M ic h a e l J o r d a n , o s u p er a s t r o d a NB A ( p . 19 - 2 0 ) . A televisão influenciou, inclusive, a propagação de determinados esportes, como é o caso do voleibol no Brasil, que na década de 80 contou com um a significativa ampliação no núm ero de torcedores, telespectadores e praticantes, segundo Marchi Júnior (2005): A c a p a c i da d e d es s e m e io d e c o m u n ic a ç ã o d e d e s p er t ar i nt e r e ss es e a g lu t in a r u m e lev a do n úm e r o d e p es s o a s d a s ma is d iv er s as r e g iõ e s e c la s se s s o c i ais e m t or n o d a t r a ns m is s ã o d e um e v e nt o e sp or t iv o , f o i um f a t o r d ec is iv o n o r e d ir e c ion a me n t o e a s c e ns ã o d os in v e st im en t o s d a in ic ia t iv a p r iv ad a n o v o le ib o l br a s i le ir o n os a n o s 8 0 . ( p. 15 0) Em contraparti da, a televisão int erfere na alteração das regras dos jogos, objetivando sua compatibilidade com a grade da programação tel evisiva, como é o caso do “tem po da TV” e do fim da “vantagem”, regras inseridas a fim de adequar essa m odalidade esportiva ao conteúdo distribuído pela mídia (TV). Casos com o o do voleibol na década de 80 e do tênis no Brasil no final da década de 90, com Gustavo Kuerten, são exem plos clássicos de como o esporte pode se popularizar através de sua maior inserção na mídia. À época do auge da exposição desses esportes na mídia pode-se modalidades. perceber um a maior procura pela prática dessas 11 Hoje, já no início do século XXI, notamos que grande parte da program ação televisiva é dedicada ao esporte, as emissoras abertas têm program as específ icos e noticiários exclusivos de esportes, e nas TVs pagas esse fenôm eno vai além, com os canais exclusivos de esporte. O casamento entre a televisão e o esporte tem se mostrado bastante rentável, notadamente para o desenvolvimento do esporte teleespetáculo 2 e, conseqüentem ente, para as emissoras de televisão e em presas a elas associadas. Segundo Penteado (1991), a televisão veicula, ao longo do tem po de transmissão, valores e princípios da ética capitalista, com o o indivi dualismo, a competição, o materialismo. Então, prof essores de maneira geral e de Educação Física em particular precisam se posicionar diante desse fenômeno com ações pedagógicas críticas, autônomas e reflexivas. Nas transmissões de jogos esporti vos, é bastante comum locutores esportivos, principalmente de futebol, f alarem sobre a “malandragem brasileira” como uma qualidade nata do povo brasileiro, ajudando assim a disseminar e reforçar um a imagem estereotipada do povo brasileiro. Não se pode negar ou subestimar a força e a importância da tel evisão na form ação das m assas. É necessário, portanto, estudá-la a fundo, para que suas mensagens — em geral fragmentadas, descontextualizadas e ideologizadas pela cultura dominant e — possam ser devidamente utilizadas no am biente escolar, de form a contextualizada e crítica, a fim de com preender e superar suas contradições. 2 Ex pr e ss ã o u s a d a p or B et t i ( 1 9 98 ) p ar a r ef e r ir - s e ao es p o r t e a p ar t ir d a s ua e x ib iç ã o n a t e l ev is ã o . O ut r os a ut or e s p r ef e r e m e xp r es s õ e s c om o e s p o r t e d e r e n di m e n t o o u s imp l es me n t e es p or t e e sp et á c u lo. 12 1.2 A televisão na educação e na educação física como ferramenta de inter venção crítica Algo que se percebe em diversas famílias é o fato de os pais exporem seus filhos logo cedo aos apelos da televisão, pois tem ela um certo poder de paralisia que faz com que as crianças se aquietem passivam ente a sua frente. De certa f orma há uma transferência de parte do processo educacional, nas m ais tenras idades, para a televisão. Assistir a um desenho animado faz com que as crianças mantenham um certo “com portamento” e não “incom odem”, conferindo um certo aspecto de calma e tranqüilidade em casa. Tal prática cotidiana evidencia a necessidade de que sejam discutidas e tomadas novas atitudes em relação a programas de televisão. Os recursos audiovisuais têm a vantagem de serem atrativos por várias razões, dentre elas pel a utilização de uma linguagem de fácil compreensão. Utilizar na escola programas televisivos, filmes, docum entários e comerciais publicitários, que fazem parte do cotidiano dos alunos, pode ser uma estratégia interessante de ensino. Penteado (2000) lembra que: a lin g u a g e m p r at ic a me n t e o n ip r es en t e n o u n iv e r s o c u lt u r a l d e t o d o s nó s n a a t u a l ida de , n ão é m a is p os sí v e l ig n o r á - la n a es c o la , e sp ec ia lm e nt e n u m a e s co la q u e at e nd a a u m pr o je t o d e mo c r át ico , q u e a l m e ja m o s c o ns t r u ir . Co mo t a m b é m nã o é ma is p os sí ve l a d m it ir - s e q u e a pr e n d er a e s cr e v ê- la r es u me - s e n o a p r en d i za d o do m a ne jo p ur o e si mp l es d os a pa r e lh o s gr a v a do r e s e r e p r o d u t o r es de im a g e n s. ( p. 1 1 6 ) Para caracterizar a complexidade, ambigüidade e as contradições constitutivas dos discursos da televisão, lembram os aqui de Bourdieu (1997, p.54), quando diz: “A televisão é um uni verso em que se 13 tem a impressão de que os agentes sociais, tendo as aparências da importância, da liberdade, da autonomia, e m esmo por vezes uma aura extraordinária, são marionetes de uma necessidade que é preciso descrever, de um a estrutura que é preciso tornar manifesta e trazer à luz”. Entendemos aqui “trazer à luz” no sentido de com preender, de desvendar a ideologia implícita no discurso das m ensagens televisivas, sendo a educação um a importante ferramenta para tal fim. Porém, é necessário certa cautela ao utilizar essa ferramenta para as crianças menores, pois el as ainda aprendem pela visualização, pela repetição e pela imitação. Programas com mensagens educativas, normalmente fora das emissoras comerciais e presentes nas TVs educativas e públicas, devem ser priorizados, evitando-se programas meram ente com erciais que têm como objetivo principal, mesmo que implícito, o incentivo ao consumo. Considerando as crianças mais velhas, acredita-se ser possível utilizar programas educativos, m as com cuidado de não se adotar uma visão romântica, com o se fossem esses os únicos programas a que el as assistissem. Para essas idades, em torno dos 12 anos em diante, não podemos fechar os olhos para a realidade: o que se assiste normalmente são program as com fins comerciais, marcados pela lógica de mercado, ou seja, programas que por vezes estigmatizam o corpo, suscitam a violência, a discriminação, o consumo e o individualismo. A escola não deve negar essa realidade, mas pode se utilizar desses programas despertando nos estim ulando-os a para jovens um a um perceber reflexão olhar e mais acerca do crítico compreender o seu para a conteúdo, televisão, “mascaram ento” das mensagens televisivas a fim de que deixem de ser meros sujeitosreceptores passivos de inform ações e passem a entender m elhor o alcance desses programas e os valores por eles disseminados, tornando- 14 se capazes de adotar um a postura de contraposição à lógica que subjaz as mensagens televisivas. Trata-se da discussão não de um a disciplina específica que estude o conteúdo midiático, m as de um tema transversal que deve transitar por todas as disciplinas e, ainda mais, uni-las nas suas discussões. Defende-se, portanto, o estudo da “mídia” como um tem a transdisci plinar. De acordo com Morin (2006), trata-se de estimular pela educação a inteligência geral, através do contexto, do global, do multidimensi onal. Um programa que trate, por exemplo, de moda e beleza pode ser utilizado pelo professor de Educação Física e de Biologia para discutir temas relacionados ao corpo; pelo professor de Sociologia para discutir conceitos de moda e beleza na sociedade, e por outros conform e sua relação com determinada disciplina. O conteúdo da TV é bastante contraditório. Quem não se lembra, há alguns anos atrás, da veiculação de comerciais de cigarro com pessoas praticando esportes de aventura? Sabe-se muito bem, e os dados estatísticos de saúde pública comprovam esta afirmação, que o hábito de fum ar causa diversos males à saúde e de form a algum a combina com uma prática esportiva saudável. Segundo Nagamini (2000, p.43), a linguagem da propaganda é essencialmente persuasiva, pois sua finalidade é vender serviços, i déias, imagens, etc. Neste caso fica claro que a idéi a difundida ali é de passar uma falsa imagem de que um fumante também pode estar ligado à prática “saudável” que é o esporte. Outra questão importante é que o Brasil está entrando na era da tecnologia da TV Digital. Na cidade de São Paulo as transmissões se iniciaram em dezem bro de 2007, e o Ministério das Comunicações promete para até o fim de 2008 o início das transmissões para 14 principais capitais no país, estendendo-se nos anos seguintes às demais 15 cidades brasileiras, com previsão de em sete anos ter o sistem a totalmente operante no país. Esse sistema promete mais qualidade de imagem e som e, o que é melhor, segundo seus defensores, uma maior interativi dade e controle por parte do telespectador, além de m aiores possibilidades de transmissão de TVs abertas, facilitando a criação de canais universitários, com unitários, educativos e outros diversos de interesse público. Provavelmente, essa nova tecnologia dará mais autonomia ao tel espectador, em função dessa possibilidade de ampliação do número de canais abertos, diferentemente do quadro atual, em que predominam as TVs Comerciais. Tal discussão ainda está muito incipiente e imatura. É preciso que a sociedade se posicione e tenha voz diante dessa questão, para que a TV Digital não se torne, mais um a vez, instrumento de alienação das massas, de dominação pelos poderosos conglomerados de comunicação existentes no país. Então, tem a escola o papel essencial de levantar a questão junto a seus alunos, fom entando o debate e mobilizando a sociedade civil, juntamente com outros grupos organizados, como Universidades, associações, sindicatos e entidades diversas que queiram uma program ação televisiva de m elhor qualidade. 1.3 O fenômeno esportivo e a mídia: história e relações O fenômeno esportivo é algo que se faz presente nas quadras das escolas, nos cam peonat os dos clubes e associações, no barro do campo da favela, nas conversas em mesas de bares, nas propagandas e nas program ações televisivas. Para o esporte não há fronteiras, 16 principalmente quando ele se alia ao processo de globalização tecnol ógica e informacional. É difícil dissociar o esporte contemporâneo dos meios de comunicação em massa. A relação esporte-espetáculo vem alterando rapidam ente a maneira como praticamos e percebemos o esporte. E o elemento-chave dessa transformação é o espectador, disposto a pagar para assistir a um a com petição esportiva, assumindo assim uma característica de consumidor do espetáculo esportivo. De acordo com Betti (1998, p.33), a partir da década de 60, com o aum ento da transmissão ao vivo de eventos esportivos, torna-se proemi nente uma nova figura na história do esporte: o telespectador. O esporte transformou-se num espetáculo modelado de acordo com a forma a ser consumido, disseminando a indústria do lazer e entretenimento, sendo a televisão uma das princi pais responsáveis por essa disseminação. Betti (1998) classifica da seguinte forma a programação esportiva: a “falação” (informa e atualiza: quem ganhou, quem se contundiu, qual foi o prêmio), “Cotidiano” (o esporte está em toda parte, em nosso dia-a-dia), “Ao vivo ” (que amplificam o drama dos eventos e criam uma cumplicidade com o telespectador), "Nostalgia" (recordar nostal gicamente do passado, dos “velhos tem pos”), “Adrenalina! ” (a aventura, o risco, os esportes radicais), “Esporte global ” (com ênfase nas transmissões de eventos internacionais, do esporte no m undo), “Espetacular” (com ênfase no close, no replay, predileção pelo inusitado, pelo acidental), e o “Anúncio Publicitário ” (que sintetiza todas as formas da linguagem televisiva). Segundo Pires (2002, p.77), “com a aplicação de novas tecnol ogias de comunicação no campo da transmissão eletrônica do esporte, o espectador, presente no local da disputa, e o telespectador, 17 que assiste pela televisão, consomem espetáculos diferentes”. A tel evisão, apoiada nos seus diversos recursos técnicos, pode fazer existir um processo de mediação entre a realidade e a imagem, que envolve a seleção e edição dos fatos e cenas, buscando uma maior espetacularização, em geral motivada pelo lucro. O close, a câm era lenta, o replay, as mini-câmeras acopladas aos capacetes e outros recursos são utilizados para acentuar o realismo das im agens. Entre a intenção de quem veicula a imagem e o efeito que ela produz, existe o telespectador, dotado de diferentes níveis e capaz de gerar diversas interpretações das m ensagens. É ele o principal alvo da mídia. El e pode ser um mero telespectador passivo, consumidor de informações e produtos, m as tam bém pode ser um agente crítico capaz de filtrar e interpretar criticamente o que lhe é transmitido. A escola certam ente pode desem penhar um important e papel na formação de tais tel espectadores críticos. 18 CAPÍTULO II A globalização, a indústria cultural e os meios de comunicação de massa e o fenômeno esportivo O presente capítulo tem por finalidade discutir a relação entre a globalização e o fenômeno esportivo, partindo de sua gênese e entendendo como essa relação se produziu num contexto social, econômico e histórico. Apresenta tam bém um a breve discussão das implicações da indústri a cultural na cultura nacional e no esporte e ainda um a discussão conceitual e ideológica dos mei os de com unicação de massa, com destaque especial para a propaganda, o rádio e a televisão, a partir da visão de Marilena Chauí (2006). Nesta perspectiva de análise, é necessário se discutir tam bém o papel da mídia: Como ela contribui para o avanço da globalização e qual o seu ef etivo papel social? Teria a mídia o papel de simples divul gar os ideais da globalização ou deveria ter o papel de discutir imparcialmente a questão? E, ainda, com o a Indústria Cultural influencia nesse processo? Essas são questões a serem discutidas no presente capítulo, que aqui não se esgot am, pois esse é um tem a pol êmico, que ainda gera muita controvérsia. 2.1 O Processo de globalização e a mercantilização no esporte O início do processo de globalização é fonte de diversas discussões entre historiadores e outros estudiosos: alguns defendem que começou ainda no período das grandes navegações, durante os séculos 19 XV e XVI; outros acreditam que se trata de fenôm eno moderno, que se desenvolveu a partir do colapso da URSS e da queda do muro de Berlim. Alguns dos autores que defendem a globalização como sendo um fenôm eno com raízes antigas consideram a existência de diferentes fases da globalização: a) primeira fase, dominada pela expansão mercantilista (de 1450 a 1850) da economia européia; b) segunda fase, de 1850 a 1950, caracterizada pelo expansionismo industrial-imperi alista e colonialista; c) terceira f ase, corresponde à gl obalização recente, acelerada a partir do col apso da URSS e da queda do muro de Berlim, de 1989 até o presente. Independentemente de sua gênese, a globalização se caracteriza pela acentuação da circulação do capital mundial, pelo aumento do consum o global e pela aproximação das culturas, num movimento tendente à hom ogeneização da cultura em detrimento das diversidades culturais regionais. Nos estudos sobre a globalização, destacam-se as pesquisas e discussões propostas por Octávio Ianni (1996), para quem: A g lo b a liz a ç ã o d o mu n d o ex p r e s s a um n ov o c icl o d e e x p a ns ã o d o c ap it a lis m o, c o m o m o d o d e p r o d uç ã o e p r o c es s o c iv iliz a t ór i o d e a lc a n c e m un d ia l. U m p r o c e s s o d e a mp las p r op or ç õ e s e n vo lv en d o n aç õ e s e n a ci o n a l id a d es , r e g im e s p o lí t ic os e p r o jet o s n ac io na is , g r u p os e c la ss e s s o c iais, ec o no m ia s e s o c ie d ad es , cu lt u r as e c iv ili za ç õ es . As s i na la a e mer g ên c ia d a s o ci ed a d e g l ob a l, c o mo uma t ot a lid a de a br a ng e nt e , c o m p le x a e co n t r a d it ó r ia . U ma r e a li d a d e a in da p o uc o c o n he c i d a , d e sa f ia nd o pr á t ic a s e id e a is , s it u aç õ e s c o ns o lid a d a s e int er p r et a ç õ e s s e d ime nt a d as , f o r m as de p e n s a m e n t o e v ô os d a ima g in a ç ã o . ( p . 11 ) Vários pesquisadores, dentre os quais Santos (2000, p.65), discutem os aspectos negativos da globalização: “a globalização mata a 20 noção de solidariedade, devolve o homem à condição primitiva do cada um por si, é com o se voltássemos a ser animais da selva, reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada”. E alguns autores também consideram que a economia global favorece ainda o processo de oligopolização das mídias. Moraes, em seu Planeta Mídia (1998), traça um interessante relato das megafusões de em presas de informática, comunicação e tel ecomunicação no m undo todo, quando afirma que: A ol ig op o li za ç ã o das mí d ias i ns er e - s e no p a in e l de f or t e c on c e n t r aç ão de c om a n d o s es t r a t é g ic os e de m u n d ia liza ç ã o d e c on t eú d os , m e r c ad or ias e s er v iç o s, f a ci lit a d a p e las d es r e g ul a me nt a ç õ e s, p e l as su p r es s õ e s d e ba r r e ir as f is c a is, p e la a cu m u laç ã o de d es lo c a liz a ç ã o c a p it a l ge o g r áf ic a nos pa is es d as in d u st r ia l iz ad os , b a se s de p r o d uç ã o p e la e, e v id e nt e me n t e , po r r e de s t ec n o ló gic a s d e m ú lt ip lo s u s os . Isto se reflete num a expansão do processo de desenvolvimento da comunicação, criando nos indivíduos uma sensação de necessidade de informação e comunicação para a sua existência. Esse avanço tecnológico e i nform aci onal, conseqüencia dessas megafusões, tem nos tornado de certa forma consumidores-reféns dos produtos e serviços postos em circulação por essas megaempresas. O esporte está entre os diversos bens e produtos culturais que, com a globalização, teve seu alcance mundialmente ampliado. Provavelmente o esporte seja um dos produtos ou bens culturais que tenha obtido a maior visibilidade m idiática com a globalização; basta observar a transmissão de eventos como a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos, que atingem praticam ente todos os países de mundo. Possivelmente não haja outro evento que m obilize tão grandes equipes de 21 trabalho em sua organização e transmissão. Emissoras de televisão de todo o mundo reúnem verdadeiros “exércitos” na transmissão desses jogos, montam-se grandes estruturas, movimentam-se grandes quantias financeiras, grandes empresas compram cotas publicitárias durante a transmissão dos jogos. Evidencia-se, assim, um a relação direta entre o esporte e o m ercado. O esporte de rendimento é, portanto, dotado de grande poder econômico e tem a televisão com o uma de suas principais parceiras de divulgação e de acum ulação de capi tal. Hoje é possível acom panhar o Campeonato Italiano de Futebol ou a Eurocopa, por exemplo, inclusive na TV aberta no Brasil. Vêem -se hoje, no Brasil, pessoas que torcem e consomem produtos de diversos times do futebol europeu, do basquetebol norte-am ericano e de outras diversas modalidades. Estes são alguns dos exem plos de com o o esporte também se apropria do “encurtamento” de distância, de espaço, de tempo — ou da “com pressão espaço-temporal”, nos term os de David Harvey (Chauí, 2006 p.32). O motivo para essa quebra de fronteiras ocorre em virtude de o esporte possuir uma linguagem simples e uma cena pronta, o que facilita o seu entendimento. É possível compreender uma partida futebol, de voleibol, de basquetebol ou ainda uma com petição de atletism o ou de natação mesmo sem locução na língua local, seja no Brasil, na África ou no Oriente Médio. Daí, um dos motivos pel os quais os eventos esportivos incorporam-se com certa facilidade à lógica do m ercado, visto que tanto o esporte quanto as empresas que transmitem seus eventos saem ganhando em termos econômicos com esta parceria. Hoje o mercado do futebol movimenta mundialmente vultosas cifras nas suas diversas transações comerciais. Jogadores de futebol brasileiros são comercializados por diversos times no mundo afora. O comércio de j ogadores, com o se fossem m ercadoria, tornou-se “normal”. 22 Transações milionárias de grandes jogadores de futebol comumente veiculadas pel a mídia, falseiam uma realidade nada “glam ourosa”: a de outros jogadores que saem do país com a falsa promessa de j ogar e ganhar m uito dinheiro; porém, ao chegar a alguns países, percebem que a realidade é outra, e inclui condições subumanas de trabalho, excesso de treinam ento, salários baixos. Ou tros ainda são abandonados, tendo que viver em condições de miséria em um local estranho a sua cultura e a sua origem, obrigados a conviver com a discriminação, o preconceito, a miséri a. Neste caso, não deveria a TV denunciar com maior freqüência esta situação, prestando um verdadeiro serviço social ? A máscara de globalização faz com que tudo pareça belo, disseminando a idéia de que a sociedade só teria a ganhar com a expansão do mercado e da economia mundial. O esporte se insere como um excelente “garoto propaganda” dessa lógica de mercado. Como é um fenômeno visto e praticado por multidões em todo o mundo, as empresas tiram proveito de sua popularidade e o transform am em mercadoria, utilizando-o para a venda de produtos, pois sua imagem é associada a saúde, beleza, competência, divertimento e outras qualidades diversas. Na lógica da expansão do mercado esportivo, criaram-se diversos heróis ou mitos no esporte, tidos como modelos de comportamento, símbolos de ascensão social, corporificados na figura do “garoto pobre que saiu da favela e tornou-se í dolo no esporte, ganhou muito dinheiro, ficou rico”. Tal tipo de imagem é explorada pela mídia como uma das grandes características do esporte; porém, a históri a do garoto pobre que, após diversas frustrações e decepções em busca do sonho de ser um grande jogador, abandona o esporte e torna-se vítima do tráfico de drogas, fica restrita a report agens isoladas, parecendo ser a exceção. 23 Submetido à lógica capitalista da qual faz parte, o esporte tam bém precisa de uma massa de “proletári os” para sustentar e permitir a existência de algum as estrelas. Poucos são os escolhidos; definitivam ente, não há espaço para todos. É a imagem glam ourizada e mercantilizada do esporte que exerce influência sobre as crianças e jovens, sobretudo de periferia, que ignoram outras realidades. Não se pode, porém, julgá-los e condená-los, pois esse é o m odelo ao qual eles têm acesso diariam ente por mei o da tel evisão. 2.2 Globalização, cultura, esporte e mídia Como é possível perceber, a globalização tem ramificações nas esferas política, econômica, social e cultural. No cam po econômico, países m ais ricos ditam como deve ser a economia dos países mais pobres; na política, as nações mais ricas e poderosas interferem nas disputas democráticas das nações mais pobres; na cultura, impõem comportamentos, atitudes; e na sociedade aumenta sensivelm ente o abismo existente entre os m ais ricos e os m ais pobres. Sobre as conseqüências da globalização para além da economia, Betti (1997) considera que: P o t e nc ia liza d as p r o d uç õe s r e p r o d u çã o pe la ma t e r ia is do v e loc id ad e e c ap it a l es p ir it u a is as si m do s m e ios e le t r ôn ic o s, m u n d i al iz a m- s e. como o A as g r an d e de s e n vo lv im en t o d as p r o d uç õe s ef e t u am- s e e m â mb it o g lob a l. A g lo b a liz a ç ã o n ã o é um f e n ô m e n o a p e n as ec o n ô mic o , t r a z c o ns ig o a m p l as c o ns e qü ê n c ias s oc ia is , p o lí t ica s e c u lt ur a is , af e t a as f or m a s d e t r ab a lh o e v id a , mo d o s d e s e r e p e ns a r , pr o d u ç õ e s c u lt u r a is e f o r m as d e ima g i na r . ( p . 22 6 ) 24 Alguns assuntos com o saúde, educação e mei o-am biente passam a ser percebidos como internacionais, relacionados à harm onia da sociedade global. A globalização é um novo ciclo mundial, que carreg a consigo valores de racionalidade, desenvolvimento, civilização, modernização. A Indústria Cultural, sob o efeito multiplicador dos meios de com unicação de massa, “reeduca” os povos e nações. Os interesses das classes dominantes, em escala nacional e global, têm sido cada vez m ais garantidos pela expansão da Indústria Cultural e, sobretudo, pelo desenvolvimento dos meios de comunicação de m assa que reúne todos os recursos da mídia impressa e eletrônica. Segundo Moraes (1998, p.50), “a informação tornou-se fonte alimentadora das engrenagens indispensáveis à hegem onia do capital”. Segundo Charaudeau (2006), a s mí d ia s s ão u m s u p or t e o r g a ni za c ion a l q ue s e a p os s a d as n oç õ e s d e “ in f or ma ç ã o ” e “ c o m un ic aç ão ” p a r a in t e g r á- l as e m s u as d iv er s as ló g ic a s, e c o n ô m ic a [ . .. ], t e c no ló g ic a [ . .. ] e s imb ó l ic a n o s en t id o d e s e r vi r a d e mo c r a c ia . É ju st a m e nt e ne s s e po nt o q u e se t o r n a o b je t o de t o d a s a s at e n ç õ es , d o m u nd o p o lí t ico , q ue pr e c is a d e la pa r a a su a p r ó p r ia vis i b ilid ad e e a ut iliz a c o m d e s e nv o lt ur a [ .. . ] ; do m u n d o f in an c e ir o q u e v ê as mí d ias co mo f o n t e d e lu c r o e m r a z ão d a s s u a s liga ç õ e s c o m a t ec n o lo g ia e o ma r k et in g em e sc a l a m u n d ia l [ . .. ]; d o mu n do da s c iê nc ia s h u m a n a s e s oc ia is , d e n t r e a s q ua is a S o c iol o g ia , qu e s e in t e r es s a p e lo im p ac t o d a s mí d ia s s o b r e a o p i n iã o p ú b l ic a , a S e m io lo g ia q u e e s t ud a a e nc e n aç ã o d a inf o r m a ç ã o, a Fi los o f ia e a A n t r o p o lo g ia S o ci a l q u e q u e st i o n a m a co ns t it u iç ã o d os ví n c u l os so c i ais n as co mu n id a d es mo d e r na s s o br e a inf l uê nc ia d a s mí d ia s ; d o m un d o ed u c a t iv o q u e s e p e r gu nt a s ob r e o lu ga r q u e a s mí d i as d ev e m o c u p a r n a s in s t it u iç õe s es c ola r es e d e f or ma ç ã o p r o f is s io n a l, d e m od o a f o r m ar c id a d ã o c r í t ic o em r e la ç ão às m e ns a g en s q u e os r o d e ia m e 25 d o p r ó p r io m u n d o q u e , pr es o a u m jo g o d e e s p e lh os [ . .. ], é le va d o a o b se r v ar - s e , es t u d a r - s e e a ut o ju st if ic ar - s e ( p. 1 5 - 1 6 ) . Outra questão importante a ser considerada é a supressão da cultura regional, com um a significativa perda de espaço de prática e divulgação, correndo o risco de ser aniquilada em algumas localidades, abrindo espaço a manifestações culturais impostas pela nova ordem mundial. Exemplo disso é a crescente diminuição das tradicionais apresentações de “quadrilhas” nas festas juninas e o crescente aumento e valorização das festas de Halloween “importadas” dos EUA, principalmente no ambiente escolar, seja ele público ou privado, com apoio dos mei os de comunicação de m assa. O processo de mundialização é um fenômeno social, de acordo com Ortiz (1994), que premia um conjunto de manifestações culturais. O esporte se manifesta com o uma parte importante desse processo. Ao ser assumido e veiculado com o um espetáculo, o esporte adquire características de um produto do processo de globalização. Segundo Pires (2002, p.59), “os fenômenos da globali zação da economia e a mundialização da cultura têm com o pressuposto a transformação dos bens culturais em mercadorias ou bens simbólicos, e a sua disponibilização aos mercados consumidores mundiais através das novas tecnologias a serviço dos aparatos da mídia”. Percebe-se como o esporte está inserido nesse contexto: sob as normas da Indústria Cultural, os eventos esportivos tornam-se m ercadorias veiculadas pela mídia. Cada vez mais integrada ao cotidiano, por interm édio do seu discurso apoiado numa linguagem audiovisual, a mídia, em especial a tel evisão, nos transmite inform ações, direciona opini ões, alimenta nosso imagi nário e constrói interpretações do mundo que nem sem pre condizem com a realidade. 26 Também no campo da cultura corporal e do movimento, observa-se a atuação crescente da mídia na construção de novos significados de prática, entretenimento e consumo. De acordo com Betti (1998, p. 17) o esporte, as ginásticas, a dança e as artes marciais tornam-se cada vez m ais produtos de consumo. Os jornais, as revistas, o videogame, o rádio e a televisão difundem idéias sobre a cultura corporal e do movimento, e o público infantil e adolescente torna-se precocemente consumidor desses produtos. O esporte-espetáculo seduz os torcedores não só nos estádios e quadras, mas, principalmente, pela televisão e pelos mei os de informação e tecnologia. O esporte então, Segundo Betti (1998, p. 11) é o centro das atenções da mídia enquanto notícia, transmissão de eventos ao vivo ou simplesm ente como tema nos anúnci os publicitários, nos quais a mídia vende a si mesm a e uma infinidade de produtos, ligados ou não a o esporte. O esporte está nas novel as, nos desenhos animados, nos seriados e nos program as de auditório. Nas propagandas, é invocado para vender jornal, remédio, automóvel, refrigerante e outros produtos diversos. Para o marketing esportivo, o importante é estimular o consumo para vender mais e para continuar vendendo sem pre. 2.3 Indústria cultural O termo Indústria Cultural surgiu na escol a de Frankfurt, na década de 40, através dos estudos de Theodor Adorno e Max Horkheimer, mais especificamente na Dial ética do Esclarecimento (1985), onde se observou o processo de banalização da produção e difusão cultural, por meio de sua redução a sim ples mercadoria de consumo. De acordo com Chauí (2006, p.28), além do controle do trabalho, a classe dominante 27 passou a dominar também o descanso, transformando tudo em mercadoria. Para Chauí (2006), a Indústria Cultural: E m p r ime ir o lu g a r , se p ar a os b e n s c u lt u r a is p or s e u s u p o st o v a lo r de mer c a d o: há o b r as “ c a r as ” e “ r a r as ” , d e s t in a d as a os p r iv ile g ia d os q ue po de m p a g ar p o r e l as , f o r ma n do u ma e lit e c u lt ur a l; e h á o b r a s “ ba r a t as ” e “ c o mu ns ” , de st in a da s à ma s sa . As s im, e m v e z d e g ar a nt ir o m e s mo d ir e it o d e t o do s à t o t a l ida d e d a p r od uç ã o c u lt ur a l, a in dú s t r ia c u lt u r a l int r od u z a d iv is ã o s oc ia l e nt r e e lit e “ c u lt a” e m a ss a “ in c u lt a ” . E m s e g un d o, c r ia a il us ã o d e q u e t o d os t ê m ac es s o a os m es mo s b e n s cu lt u r a is, c a d a u m e s c o lh e n d o livr e m e n t e o q u e de s e ja , c om o o c o n s u m id o r e m u m s u p e r m er ca d o . No e nt a nt o, b a st a d ar m o s a t e n ç ã o a o s h or á r io s d o s p r o g r a ma s d e r á d io e t e l ev is ã o o u a o q u e é v e n d id o n a s b a n c a s d e jo r na l p a r a v e r m os q u e as e m pr e s a s d e d ivu lg aç ão cu lt u r a l já se le c io n ar a m d e a nt e m ão o q u e ca d a g r up o d e ve o uv ir , v e r o u le r [ . . . ]. E m t e r c eir o lu g a r , in v e nt a f ig ur a s c h a m a d a s “ e s p e ct a d or m é d io ” , “ o uv in t e m é d io ” e “ l e it or m é d io ” , ao s q u a is s ã o at r i bu í d a s c e r t as c ap ac id a d es me n t a is “ m é d i as ” , ce r t o s c o n h e c im e n t o s “ mé d io s ” e c er t o s g o s t os “ m é d i os ” , o f e r ec en d o- lh es p r o d u t os c u lt u r a is “ m é d io s ” . O q u e s ig n if ic a ist o ? A I n d ús t r ia C u lt ur a l v e n d e c u lt ur a . P a r a v e nd ê- l a, de v e s ed u z ir e a gr a d a r o c o n s u m id o r . P ar a s e d u z ilo e a gr a d á- lo , nã o po d e c h o c á- l o, pr o v o c á- lo, f a zê - lo p e n sa r , t r a ze r - lh e inf o r m aç õ es no v a s q u e p er t u r b e m , mas d ev e d ev olv e r lh e, co m n ov a a p ar ê nc ia , o qu e e le já s ab e, já vi u, já f a z. E m q u a r t o lu g a r , d e f in e a c u lt ur a co mo la ze r e e n t r e t e n ime nt o , d iv er s ã o e dis t r a ç ã o , de m o d o q u e t ud o o q u e n a s o b r as d e a r t e e de p e ns a m e n t o s i gn if ic a t r a b a lh o c r ia do r e e x p r e ss iv o da s en s i b i lid a d e, d a im a g in aç ã o, da i nt e lig ê n c ia , d a r e f le xã o e da c r it ic a n ã o t e m in t e r es s e, n ão “ v en d e ” . M a ss if ic a r é , as s im , 28 b a n a li za r e d iv u lg ar a c u lt ur a, de s p e r t a n d o in t er e s s e p o r e la , a I n d ú st r ia Cu lt u r a l r e a liz a a v u lg ar i za ç ã o d as ar t e s e d os c on h e c im e n t o s. ( p. 2 9 - 3 0) Segundo Pires (2002, p.65-66), há na I ndústria Cultural o que os autores chamaram de “incorreções calculadas”, que seriam alguns outsiders, surgidos de tem pos em tem pos, porém controlados pela Indústria Cultural, que, quando não são cooptados pelo sistema, são excluídos; tomados com o bizarros ou utópicos, não conseguem os m eios técnicos e financeiros para, perseverando na sua contracultura, manterem-se em evidência na mídia. Acreditamos que a cena cultural da cidade de Recife-PE sirva como exemplo de manifestações culturais que não se venderam à mídia e continuam expondo sua arte de forma livre e independente. Podemos citar alguns casos como a Literatura de Cordel, o Samba do Matuto, o Maracatu e ainda alguns artistas como Jorge Mautner, Selma do Coco, Antônio da Nóbrega, o poeta e escritor Ariano Suassuna, eterno defensor da cultura regional, em especial a nordestina, dentre outros. Há tam bém um a série de j ogos e brincadeiras de rua que não aparecem na mídia, mas que são parte constitutiva da cultura e do imaginário brasileiros, como por exem plo, a queimada, o “golzinho”, o jogo de “beti” entre outros. Sua inserção em aulas de Educação Fí sica pode ser encarada como uma divertida e criativa forma de resistência à hom ogeneização operada pela indústria cultural e pela mídia. 2.4 Os meios de comunicação de massa Segundo Chauí (2006, p.35) a expressão “com unicação de massa” foi criada para se referir a objetos tecnológicos capazes de 29 transmitir um a mesma informação para um vasto público ou para a massa. Ainda segundo Chauí, inicialmente se refere ao rádio e ao cinema, pois a imprensa pressupunha a existência de pessoas alfabetizadas, o que não era necessário para o rádio e o cinema. Pouco a pouco, estendeu-se para a imprensa, a publicidade, a fotografia e a tel evisão. Chauí, em seu livro, Si mulacro e poder: uma análise da mídia (2006), faz uma interessante análise sobre os meios de comunicação de massa, destacando a propaganda, o rádio e a televisão. Em relação à propaganda, explica que a pal avra deriva do verbo propagar, que quer dizer multiplicar uma espécie por m eio de reprodução, espalhar-se por um território, aumentar num ericamente por contágio, irradiar-se, difundir-se e, por extensão, divulgar. Na era da sociedade industrial, os produtos eram valorizados por sua durabilidade, portant o a propaganda com ercial deveria enf atizar esta característica do produto, inventando uma imagem duradoura que se tornava uma marca facilmente reconhecida por todos. Como exem plos, Chauí cita slogans de produtos na década de 40, como: “Melhoral é melhor e não faz mal”, “Cashmere Bouquet, a fragrância para você”. Já com o acirramento da concorrênci a entre empresas e produtos e com o advento da sociedade pós-industrial, a ênfase passa a ser no consumismo imediato, pois os produtos já não têm a mesm a durabilidade, o que prevalece é o consum o rápido, o produto da moda de hoje já não é o mesmo de ontem. Portanto, a propaganda comercial pass a a operar no despertar do desejo que ela realiza: sucesso, prosperidade, segurança, j uventude eterna, beleza, atração sexual, felicidade. Ou seja, a propaganda passou a vender imagens e signos, e não as próprias mercadorias. 30 Os outros m eios de comunicação de massa analisados por Chauí são o Rádio e a Televisão. Segundo Chauí, o rádio logo despertou o interesse de sociólogos, psicólogos e filósofos, pois com ele se iniciou efetivamente a informação e a comunicação de massa à distânci a. Para exem plificar o poder de persuasão e o alcance do rádio, Chauí cita um fato curioso, ocorrido em m eados de 1930: o escritor Orson W elles transmitiu pelo rádio seu romance A Guerra dos Mundos, que narra a invasão do pl aneta Terra por marcianos; porém, el e não avisou durante as transmissões que se tratava de uma ficção, e isso causou grande pânico na cidade de Nova York e em todo o país. Este politicamente poder pelo de nazism o persuasão para do convencer rádio a logo foi sociedade utilizado alem ã da grandeza, justeza e poderio do Terceiro Reich. Como o rádio, a televisão é outro meio de com unicação à distância com possibilidades jornalísticas e folhetinescas, porém com a vantagem de inserção da imagem. Ainda segundo Chauí, a Indústria Cultural, a televisão e o rádio operam segundo a lógica do mercado de entretenimento e da propaganda com ercial. A program ação, por exigências comerciais, se divide em program as destinados a segmentos sociais e a faixas estárias distintas — crianças, adultos, donas de casa, adolescentes, hom ens, mulheres etc. Em outras palavras, o patroci nador não i nterfere apenas no intervalo comercial, a forma e o conteúdo do programa também exprimem a exigência do patrocinador. Observa-se também, na programação televisiva, a ausência de referência no espaço e no tempo. Distâncias e proximidades geográficas são ignoradas, fazendo com que o distante pareça próximo e vice-versa. Os acontecimentos são relatados com o se não tivessem causas passadas 31 nem efeitos futuros, existem enquanto objetos de transmissão e deixam de existir quando param de ser transmitidos. Fatos como o seqüestro da filha de um famoso apresentador de televisão são explorados intensamente pela televisão, sem sequer discutir qualquer relação com as causas possíveis da cri minalidade, com o desem prego, desigualdade social, exclusão, fome, miséria. Nenhuma informação real é transmitida à sociedade, a não ser a idéia de que criaturas más ameaçam a vida de pessoas de bem e desprotegidas. Outro fato discutido superficialmente pelos m eios de comunicação de massa foram os atentados de 11 de setem bro. Mostrouse repeti das vezes a imagem da colisão dos aviões nas torres, passando a idéia de que o ataque teria sido um ato repentino e insano, sem precedentes. Não se discutiu o que levou a tais acontecimentos, como as relações econômicas e políticas dos EUA com os países do Orient e Médio, não houve nenhum a referência aos interesses econômicos e políticos dos Estados Unidos na região. De nossa parte, discutimos outro fato de imensa expl oração pela mídia, que foi a não renovação da concessão da RCTV, pelo Presidente venezuelano, Hugo Chávez. A televisão tratou aquele fato como ato de ataque à liberdade de imprensa, atitude extremamente antidem ocrática; não citou sequer o fato de que aquela emissora já havia sido punida em governos anteriores por exibir conteúdos e programas qu e desrespeitam as leis venezuel anas, além de promover uma campanha aberta pela derrubada do Presidente Chávez. Tam bém não foi feita referência a um a possível aliança da RCTV com o governo norteam ericano contra o Presidente venezuelano. Para Chauí, há uma situação paradoxal em curso: apesar da aparente saturação da inform ação, nada sabem os, tem os apenas a ilusão de que estam os sendo i nform ados sobre tudo. As imagens são 32 escolhidas, editadas, comentadas e interpretadas pelo transmissor das notícias, num procedimento deliberado de controle social, político e cultural. Chauí discute ai nda a questão da telenovela que aparece como um relato real, enquanto o noticiário com o uma narrativa irreal. A tel enovela opera reforçando o senso com um social, mantendo um a cl ara distinção entre o bem e o mal, a naturalização da hi erarquia social e da pobreza, o desej o de “subir na vida”, a recom pensa dos bons e a punição dos m aus. De acordo com Chauí, há ainda outros dois efeitos que os meios de com unicação de massa produzem em nossas mentes: a dispersão da atenção e a infantilização. Segundo ela, os meios d e comunicação de massa dest roem a capacidade de atenção, de concentração, a capaci dade de abstração intelectual e de exercício do pensamento. E, ao mesm o tem po, satisfazem im ediatam ente os desejos, não exigindo atenção, pensam ento, reflexão, crítica, provocando uma certa perturbação da sensi bilidade e da fantasia. A isso se associa a consideração de Freud, segundo a qual ser infantil é não conseguir suportar a distância temporal entre o desejo e a satisfação dele. A destruição da capacidade de concentração (dispersão) e a infantilização conduzem ainda a um outro efeito, o estímulo ao narcisismo, pois as imagens e mensagens são produzidas e transmitidas para repeti r sem pre a mesm a m ensagem: “eu sou você”. De maneira que a TV não é só o mundo, é também o sujeito, oferecendo um imenso espel ho, no qual devemos ver nossa própria imagem que parece estar ali refletida, mas na verdade foi propositalmente produzida para causar tal efeito de identificação narcisista. Por fim, Chauí tece alguns comentários sobre a obra Quatro Argumentos para eliminar a televisão, de Jerry Mander, que foi, durante 33 15 anos, executivo e relações públicas de emissoras de TV norteam ericanas. Para nossa pesquisa, vale destacar uma das regras de transmissão apontadas por ele: sentimentos de conflito televisionam melhor do que sentim entos de concórdia, por isso a competição tel evisiona m elhor do que a cooperação. Eis um dos prováveis motivos do imenso sucesso das transmissões esportivas pela televisão. 34 Capítulo III Campo Metodológico Neste capítulo apresentamos a metodologia, com a descrição dos procediment os de coleta e análise de inform ações. Acrescentamos, ainda, uma discussão teoria-em piria, buscando um a melhor interpretação do fenômeno a partir dos dados inf orm ados e analisados. 3.1 Descrição dos procedimentos de pesquisa e coleta de informações Para se com preender o objeto de estudo a partir da percepção dos atores sociais envolvidos, da análise das mensagens televisivas acerca do esporte e da Educação Física e ai nda da revisão bi bliográfica do tema, buscaram-se procedimentos de pesquisa de cunho qualitativo, mais adequados ao método de investigação escolhido e às especificidades do nosso objeto de estudo. Como técnica de coleta de inf ormações optou-se pelo Grupo Focal, que, segundo Powell e Single (apud Gatti 2005, p.7), é composto por um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema (objeto da pesquisa) a partir de sua experiência pessoal. Kitzinger (apud Gatti 2005, p.7), diz que o grupo é focalizado no sentido de que envolve algum tipo de atividade coletiva, como por exem plo o ato de assistir a um filme e conversar sobre ele. Lembra ainda que a utilização dessa técnica de pesquisa foi comum nas décadas de 1970 e 1980, em áreas muito particulares com o a pesquisa em com unicação, na avaliação de m ateriais diversos ou de serviços, em estudos sobre recepção de programas de tel evisão ou de filmes, em processo de pesquisa-ação ou pesquisa intervenção (2005, p.8). Aqui, a 35 atividade coletiva foi a exibição, análise e discussão do vídeo nomeado na col eta de informações e descrito a seguir. Entrevistas em grupo podem ser focais e/ou de discussão. Segundo Gaskell (2002, p. 75) “o objetivo do grupo focal é estimular os participantes a falar e a reagi r àquilo que outras pessoas no grupo dizem. É uma interação social m ais autêntica do que a entrevista em profundidade”. W eller (2006, p. 243) alerta que nos grupos focais as diferenças de status entre os participantes não são levadas em consideração, e o debate se fundamenta em um a discussão racional. Di z ainda que os grupos focais se assemelham aos talk shows apresentados nas emissoras de televisão, pois um certo número de convidados é cham ado a debater um certo tema com a ajuda de um m oderador. Podemos destacar algum as vantagens no grupo focal, como a economia de tempo, pois permite coletar um maior número de opiniões em um menor participantes, tem po; permite também criando condições propícias uma interação para um entre debate. os Porém, tam bém há algumas dificuldades quanto à identif icação da voz do ator: no momento da transcrição, pode haver uma certa confusão na identificação das vozes dos entrevistados. Portanto, o entrevistador deve tomar algum as m edidas para evitar falhas na transcrição, audição e mesmo na análise. Para análise dos grupos focais, fundadas em entrevistas com pequenos grupos de sujeitos, e das próprias m ensagens esportivas tel evisivas, optou-se pela análise qualitativa das informações obtidas. Molina (2004, p.112) afirma que o termo “qualitativo” é em pregado para sustentar um leque de técnicas de investi gação centradas em procedimentos hermenêuticos, que tratam de descrever e interpretar as representações e os significados que um grupo social dá à sua experiência cotidiana. Segundo Campos (2001, p. 183) “se o método 36 quantitativo caracteriza-se pela busca de precisão e obj etividade, o qualitativo, ao contrário, está mais preocupado em aprofundar os temas de estudo, em conhecer de perto a natureza de um fenômeno, os próprios sujeitos enquanto agentes nas coletividades soci ais”. Então, um a pesquisa com enfoque qualitativo abre caminho para conhecimento do movimento humano de forma holística, ampl a, contextualizada e sem pre envolvida com aspectos históricos, sociais e culturais. A coleta de informaçoes se deu a partir da exibição, para o grupo, dos vídeos “Especialistas mostram as características que cada esporte desenvolve na criança” (12 min) e “Pista de atletismo de asf alto em colégio de bairro pobre faz sucesso entre alunos e professores” (3 min), exibidos no programa Esporte Espetacular da Rede Globo em 08/04/2007. Formaram-se três Grupos Focais, sendo dois com seis indivíduos e um com oito indivíduos, para que se discutissem, através de um roteiro pré-estabelecido pelo pesquisador, tem as com o: discurso jornalístico sobre o esporte, modelos e padrões esportivos veiculados pela televisão, formação humana ou técnica pelo esporte, acesso às diversas modalidades esportivas na escola, respeito às características indivi duais e à diversidade, al ém de outros tem as relevantes. Para tanto, foram feitas as seguintes perguntas: Alguém de vocês já havia visto esta reportagem antes? Você discorda da forma ou opinião como f oi colocado na reportagem? Por quê? Você concorda com a tese do livro de José Delia, no qual se apresenta um quadro com as características de cada esporte? Na sua opini ão, reportagens e jogos exibidos na TV podem ser utilizados na sala de aula de Educação Física? Com o? 37 Alguém já utilizou algum jogo ou reportagem em sua sala de aula? Qual foi o resultado? Você acha que a TV tende a um certo direcionam ento de opiniões, atitudes e comportam entos? Na sua opinião isso é positivo ou negativo? Há algo mais que alguém gostaria de falar a respeito desse tema? Para os grupos 01 e 02 foi solicitado que se fizesse um a comparação entre a primeira e a segunda reportagem. A partir dos alunos do curso de Especialização em Educação Física Escolar na Faculdade de Educação Física da UnB, constituiu-se um a amostra i ntencional de indivíduos. A maioria desses alunos está atuando em diversas escolas públicas da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Segundo Gatti: Pr iv i le g ia - s e a s e l eç ã o d e p a r t ic ip an t e s s e g u n do a l gu ns cr it é r ios — c o nf o r me o p r o b le ma d o es t u d o — , d e s de qu e el es po ss u am a lg u mas c a r ac t er í st ic a s e m c o m u m q u e o s q u al if ic a m pa r a a d is cu ss ã o d a q u es t ã o q u e s e r á f o c o d o t r a b a lh o in t e r at iv o e da c o let a do ma t er ia l d is c ur s iv o / ex p r es s iv o . O s p ar t ici p a nt e s d e v e m t e r a l gu m a v iv ên c i a c om o t e ma a s e r dis c ut i do , d e t a l m od o q u e s ua p a r t ic ip a ç ã o p os sa t r a zer e le m e nt o s de s u as e x p e r iê n c ias c ot i d ia n as . ( 2 0 0 5. p. 7 ) As entrevistas em grupo foram todas gravadas com gravador de tecnologia digital e transcritas integralmente. Os trabalhos foram reali zados nos dias 28 e 30 de agosto de 2007, na sala 44 da Faculdade de Educação Física da Universi dade de Brasília, com o parte da disciplina Sociologi a da Educação Física do 38 Curso de Especialização em Educação Física Escolar, no período vespertino. Todos os grupos tiveram a duração de cerca de 90 minutos, sendo os primeiros 30 minutos para apresentação da pesquisa, preenchimento de questionário contendo questões sobre dados pessoais e profissionais, e exibição do vídeo, com as duas reportagens, com um total de 15 minutos de duração. Pôde-se perceber um grupo bastante hom ogêneo em termos de formação acadêmica, sendo todos licenciados em Educação Física por universidades como: UCB (a m ais citada), Faculdade Dom Bosco de Educação Física, UFBa, ESEFEGO, UFG, UnB, UFRJ e UFV. Seis deles informaram possuir curso de pós-graduação em nível de Especialização. O tempo form ação, porém, variou de 2 a 23 anos, e o tempo de magistério de 2 a 20 anos — dados bastante heterogêneos, portanto. A maioria dos professores atua em escolas públicas em diversas Regiões Administrativas do Distrito Federal, que, segundo eles, apresentam condições e estrutura bem precárias. 39 Capítulo IV Contexto da pesquisa: análise qualitati va das informações obtidas a partir dos grupos focais O presente capítulo tem por objetivo apresentar, anal isar e discutir os dados obtidos a partir das referidas reportagens e também os dados obtidos a partir da análise dos grupos focais, levando-se em conta a análise qualitativa das informações. Na análise dos grupos focais, alguns depoimentos foram preservados na íntegra, para fins metodológicos, a fim de apresentar de forma literal e detalhada o seu conteúdo. 4.1 Resumo das reportagens exibidas Apresentamos aqui um breve resumo das duas reportagens exibidas aos professores, as quais nortearam os debates nos grupos focais. Ao resumir as reportagens, procuramos não emitir juízo de valor, mantendo-nos fiéis ao texto. As opiniões apresentadas são das pessoas entrevistadas e dos repórteres responsáveis pela m atéria. A primeira reportagem do Esporte Espetacular teve o objetivo de mostrar a importância da atividade física na vida de m eninos e meninas. Foram entrevistados alguns especialistas, que consi deraram a atividade física um a aliada na educação de crianças. A reportagem m ostra o exemplo de José Adriano — adolescente de 16 anos, saudável, empregado com o catador de bolinhas, ele pratica esporte três vezes por semana num projeto social no bairro onde m ora, em Paraisopólis, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Na 40 sua infância, foi um garoto obeso que, segundo sua mãe, ti nha altas taxas de colesterol e pressão alta, além de gordura no coração. Por ser obeso, tinha vergonha de freqüentar a escola, pois se sentia discriminad o pelos colegas. Depois de entrar para o projeto financiado pelo Hospital Albert Einstein e com a ajuda do professor Arnaldo, sua vida foi mudando, melhorou sua auto-estim a e ele voltou a freqüentar a escola. Em seguida, mostra-se um a entrevista com um a pessoa não identificada , que diz que o esporte pode trazer para a criança um a série de benefícios desde que sej a praticado de maneira correta e não seja um a imposição. À pergunta “Em qual esporte vou colocar o m eu filho?”, tom ada com o pergunta que todos os pais se fazem, responde-se: “todos os esportes”. Bernardinho, técnico da seleção brasileira de Voleibol, confirma em entrevista que todos os esportes são bem-vindos, e com pleta dizendo que é importante que a criança experimente todos eles. O técnico compara as modalidades esportivas com as disciplinas escolares, dizendo que a criança deve conviver com diferentes esportes, assim como convive com o Português, a Matemática, a Geografia, a História etc., para que no futuro ela se identifique com algum esporte. Outra situação apresentada na reportagem é a do projeto “Centro de Aprendizado do Esporte”, do Clube Pinheiros de São Paulo, que existe há 30 anos, com crianças de 3 a 10 anos, que aprendem a praticar vári as modalidades, criança, segundo uma visando professora o desenvolvimento entrevistada. De global acordo com da a reportagem, o esporte é apenas um “pano de fundo” para as crianças se exercitarem brincando. A m ãe de Sandra, uma aluna do projeto, considera que é importante ser uma mãe orientadora, e não uma m ãe cobradora, dando liberdade ao filho para que ele escolha o esporte que gostaria de praticar. 41 A reportagem segue m ost rando alguns pais que exageram na torcida. Cita o exemplo do técnico e pai ucraniano que agrediu a filha nadadora, na frente das câmeras, após um mau resultado em um a competição mundial, na qual ela não conseguiu se classificar para as semifinais. Segundo a reportagem, a pressão da fam ília é inimiga de crianças e adolescentes. Mostram -se ainda dois outros exemplos: o do ex-tenista Marcel o Saviola, que com eçou a trei nar aos cinco anos e aos 14 foi o tenista mais j ovem a m arcar pontos no ranking da ATP, mas esbarrou na pressão psicológica que com eçava em casa. E por último mostra-se o caso de André, jogador de futsal, que pediu ao pai (o consultor Fernando Rodrigues) que não o acompanhasse mais nas competições para não senti r pressionado. José Rubens Delia considera que o esporte é a melhor f órmula para preparar a criança para o alto grau de competitividade do mundo de hoje. Segundo ele, a competição não é pecado, e a criança tem muito a aprender com el a: num jogo, a criança vivenci a determ inadas situações que só poderi am ser vivenciadas depois que terminasse seu ciclo jovem, quando começasse a ter certos problemas prof issionais na fase adulta. O jornalista responsável pela reportagem inform a que José Rubens Delia é um especialista em Esporte e Psicologia, autor de dois livros, e que defende a tese de que a partir dos 10 anos a criança está apta a escolher uma modalidade esportiva. Uma das exceções, segundo ele, é a Ginástica Olímpica, pois nela a cri ança tem que se inserir muito nova, para que aos 10 anos ela já esteja competindo. O autor apresentou um quadro mostrando a característica de cada esporte. O judô seria recom endado para crianças com problem as de disci plina; a natação, para um a criança mais agitada; o vôlei é ótimo para aquele que é tímido e tem dificuldade de relacionam ento; o basquete, para a criança que precisa de vel ocidade de raciocínio; o futebol traz 42 controle de agressividade e estimula a criatividade e a agilidade; já o tênis desenvolve poder de concentração; e até os esportes radicais ajudam a criança a ter maior autocontrole. José Delia afirma ser qua a aliança entre a quadra e a sala de aula ajudaria a desenvolver múltiplas inteligências — física, emocional e psíquica. O técnico Bernardinho consi dera que o professor de Educação Física pode também ajudar os professores de outras matérias m enos sedutoras que a Educação Física, já que o esporte, por provocar a paixão dos estudantes, traz o jovem para a escola e, portanto, para o processo de educação. E o último caso mostrado nessa primeira reportagem é o do colégio EJA, da Zona Sul do Rio de Janeiro, que prom ove uma integração do esporte com as outras disciplinas, tendo a Educação Física um papel tão importante quanto as outras disciplinas. Os professores trocam informações sobre o com portamento dos alunos e, nas aulas de Educação Física, os alunos se autoavaliam, avaliam situações ocorridas durante as aulas que precisam de uma reflexão, com o a rel ação com os colegas e a percepção dos seus atos. A reportagem traz depoimentos de alguns alunos mostrando a importância desse processo. E essa reportagem (de aproximadam ente 12 minutos) termina voltando ao garoto José Adriano, que não quer ser atleta, mas viu no esporte a chance de se transformar e de conquistar saúde. De acordo com a reportagem , por m eio do esporte mais e mais crianças poderão viver a sua história. A segunda reportagem (de aproximadamente 3 minutos) mostra a história de uma escola do Paraná que construiu uma pista de atl etismo num a área abandonada, atrás da escola, em parceria com a prefeitura. Os professores e servidores da escola utilizam -na para se exercitarem, o que auxilia na perda de peso, diminuição do estresse, do 43 cansaço e ajuda no relaxamento. A pista construída é bem menor que a oficial, mas trouxe mais ânimo para quem quer saúde, e mais sonhos e esperanças para quem quer vencer as dificuldades do dia-a-dia. 4.2 Análise qualitativa das informações obtidas a partir dos grupos focais Citaremos e analisaremos ao longo deste capítulo trechos de depoimentos coletados nas dinâmicas dos Grupos Focais, para, em segui da, responder à questão em estudo. A literatura pesquisada (referida nos capítulos anteriores e tam bém neste) embasa e legitima nossas proposições e hipóteses. Partindo de nosso problem a inicial de pesquisa — É possível ao professor apropriar-se de forma crítica e superadora das mensagens esportivas veiculadas pela televisão sobre o esporte espetáculo e conscienti zar os alunos acerca da realidade da prática da Educação Física na escola? — perguntam os aos pesquisados se eles acham que reportagens e jogos esportivos exibidos na TV podem ser utilizados na escola. Todos os indivíduos dos grupos 1 e 3 acham possível e, no grupo 2, dois indivíduos consideram não ser possível. Questionados sobre como poderia ser a utilização de tal recurso, alguns ent revistados que já haviam utilizado esse recurso relataram suas experiências, e outros, que nunca o haviam utilizado, tam bém opinaram quanto às possibilidades de utilização. Logo em segui da, perguntou-se se alguém já havia utilizado programas ou reportagens de TV em suas aulas. Alguns relat os a esse respeito surgiram m esm o antes da inserção da pergunta, em função do desenvolvimento do debate. Citam os abaixo alguns trechos dos relatos, para análise e discussão: 44 “ . . . Um ex e mp lo f o i n a s e g u nd a- f e ir a à no it e , p as s o u u m f ilm e , e u a ch o qu e e r a " C o m a b o la t o d a" , e n o f i lm e e le s en s ina m o D O TB O L, e e u v o u t er q u e p e g a r o f ilm e e o bs er v a r d ir e it o p a r a ve r a s r e gr a s do f ilme p or q u e e l es qu er e m jo g a r , n u m f i lme q u e p as s a s e g u n d a - f e ir a à n o it e, t a r d e pr a c a r a m b a , e o me n in o t e m q u e a c o r da r c e d o p ar a o o ut r o d ia es t ar n a es c o la , e ng a n o m e u, n o o u t r o d ia m ais d a me t a d e d a t u r ma t in h a v is t o o f i lm e e a c h o u q u e a g e n t e p o d ia jo ga r o DO T B O L, q u e é p a r ec id o c o m a Q u eim a d a , m a s c o m o ut r as r eg r a s, m e co m pr o m et i c om e l es q u e ir ia pe g a r o f ilm e e v ou as s is t ir , vo u a n ot a r , v ou p es q u is ar p r a g e n t e p o d e r jo ga r ” Esse trecho dem onstra como a televisão está presente na vida dos alunos, inclusive num horário em que eles deveri am estar dormindo, segundo a professora, portanto confirmando que eles não assistem apenas a programas matinais ou vespertinos, devendo o professor estar atento e preparado para discutir tais programas. No caso citado no depoimento, trata-se de um filme que tudo tem a ver com a Educação Física; trata-se de um esport e desconhecido no Brasil, mas que os alunos viram na televisão e agora querem conhecê-lo e cobram isso da professora. Ela se comprometeu a pesquisar sobre o tema e informar os alunos sobre o jogo. A parti r dessa situação, ela tam bém poderia discutir outras questões, com o esportes criados e praticados nas ruas, nas comunidades, inclusive propondo aos alunos que inventassem um novo esporte ou m esmo adaptassem as regras de esportes de rendimento já conhecidos para algo novo, com a finalidade de aumentar a participação de todos. Isto é o que o professor Eleonor Kunz propôs em seu livro Transformação didático-pedagógica do esporte (2001). Segundo Kunz (2001, p.125-126) um dos pontos controvertidos do esporte como prática educacional na formação da cidadania emancipada é justam ente a form a que é praticado hegemonicam ente, nas com petições esportivas e transmitida pel os m eios de com unicação (televisão, sobretudo). De acordo com Kunz, esse tipo de prática esportiva não apresenta elem entos para se constituir num a 45 formação geral. Ela propõe, então, a transformação di dático-pedagógica do esporte, não no sentido de alterar seu significado, mas de facilitar e democratizar o acesso a tal prática. Além da televisão, o jornal também é citado por alguns professores entrevistados, como m aterial a ser utilizado em aulas de Educação Física. Vejamos esse tipo de referência no depoimento a seguir: “ V a i t e r u m a r e p o r t a g e m t a l n o d o m in g o e v a m os as s is t ir , p o r q u e n ós v am o s f a z er u m d e b at e , t r a g a m o jo r na l q u e t e n h a a lg u m a r e p o r t a g e m d e a lg u m e s p or t e , a lg u ma c r í t ic a e s p o r t iv a, a lg u ma co is a d e e s p o r t e e a g e n t e p r o mo v a e s t e d e b at e d e nt r o da s a la d e a u la . De p o is a g en t e vi a o t a n t o q u e o s a lu no s c r e sc ia m e a v isã o d e l es er a t ã o in t e r es s a n t e e m t er mo s d e c r í t ic a me s mo. P o r q u e o go v e r n o nã o f a z is s o ? Po r q u e o g ov e r no nã o f a z a q ui lo ? P o r q u e t e m g e n t e q ue t e m co nd iç ão e t em g e n t e q u e n ã o t e m c o n d iç ã o ? E nt ã o , c a b e a nó s a pr o v e it ar m o s a t e le v is ã o , já q u e n ó s t e m os e ss a p os s i b ilid a d e de g r av a r e mo st r ar p a r a os a lu n os , d e les i r e m at r ás d is s o e p r o m o v e r e ss e ca m in h o n a e sc o l a. ” Aqui al ém da questão da televisão, o professor traz outro tem a interessante para o debate, que é o jornal impresso, outra mídia de grande alcance, porém ainda pouco disseminada entre os estudantes nas aulas de Educação Física, mas que deve ser incentivada na escola, por exercitar a leitura, a busca de informação, o entendimento crítico de determinadas situações. (Esse trabalho não tem a finalidade de estudar a mídia impressa, mas acredito que ela mereça investigações mais aprof undadas, por se tratar de algo tão importante, mas ainda pouco estudado e incentivado no âmbito escolar). Vejam os outro depoimento sobre o uso dos esportes transmitidos pela televisão com o tema para debate numa aula: “Eu u t ili ze i a g or a , ju s t a me nt e agora, com r e la ç ã o ao P a n a m e r ic a n o e o P a r a p a n a m er ic a n o . Co inc id e n t e m en t e o P a na m er ica n o f oi ag or a no no s s o r ec e ss o, e 46 f ic o u b o m p ar a t o d o m un d o , t o d o m u n d o v iu . M es m o n a t e lev is ã o a b e r t a, na B a n d , n a G lo b o e n a Re c or d , b o a p a r t e d as c o mp e t iç õ e s e n a gr a n d e ma i or ia os e s p o r t es p o p u la r e s, o s ma is c o n h e c ido s er a m pa s s a d o s na í nt e g r a. O B r as il es t a v a r es p ir a n d o e sp or t e e a c o mp e t iç ão n o P a n am e r ic an o, e e u f i z u m a r ef lex ã o co m ele s s o b r e a c on c l us ão , o r e su lt a d o d o P an a me r ic a n o, e p eg u e i u ma cr í t ic a d e u m jo r n al qu e f a la v a o q u e t in ha s i d o inv e st id o e q u e t a lv e z d e v es s e, s e a q u e la v er b a f o s se us a d a p ar a in f r a - es t r u t ur a , em s a úd e, o q ue da r ia p ar a f a z er . A g e nt e sa b e q u e o es p or t e é imp or t a n t e, m a s a ge nt e s ab e t a m bé m q u e f o r a m g as t o m u it o d i nh e ir o, s e n d o q u e o Br a s il t e m d im e ns õ es c on t in e n t a is , t a lv e z p r e c is a ss e m ais d a qu e l e d in h e ir o p ar a o ut r a s c o is as , c o m o s a ú d e, s e gu r a n ç a e e d uc aç ã o , d o q u e p a r a u m a c o mp et iç ã o em s i. E u f ic o pe ns an d o e m u m a C op a d o M u n d o, s e h o uv e r u ma C o p a d o M u nd o aq u i o p ov o e n lo u q u ec e, c om p et iç õ es do e c o loq u e i pa r a Pa r ap a na m er ic a n o e le s não ag o r a e st ã o o sendo P a r a p a n a m er ic a n o , t r a ns m it id a s c o mo que as as do P a n a mer ic a n o f o r am. S e r á q u e v e r pe ss o as co m dif ic u ld ad e s, p e s s oa s s e m p er n as , p es s o a s s em b r aç o s, p es s o a s c e g a s n a t e le v isã o c o mp e t in do va i o f e n d e r a l gu é m ? E n is so e n t r a a q u e s t ã o d a d is cr i m ina ç ã o , e e u t r o u x e p ar a d e n t r o d e s a la a q u e s t ã o d o g or d in h o , a d o q u e n ão d á co n t a d e p eg ar a b o la d ir e it o , lá a t e lev is ão disc r im in o u e n q ua nt o p as s o u os d it os p er f e it o s , e os at l et a s d o pa r a pa n a m er i ca n o nã o t iv er a m os me s m o s d ir e it os . E se eu f os se um a t le t a q ue e st iv e s se c o m p et in d o no p ar a p a n a mer ic a no , e u me s e nt ir ia d is c r im in ad a ? E u c o lo q ue i p a r a e l es : se eu n ão c on s e g u is s e p eg ar a b o la , s e e u n ã o c o n se g u is s e c or r er c om o os o ut r o s c o r r em e s e e u n ã o c o n s e g u is s e dr ib la r c o mo os o ut r os d r ib la m, e u m e s en t ir ia d is c r im in a d a ? V o c ê v al e p e lo q ue vo c ê t e m o u p e lo o que v oc ê é ? E nt ã o f oi mu it o bom p r inc ip al m en t e d os a lu n o s , p o r ex e m p lo , d a 5 ª D , q u e sã o os ma io r e s, c om m a is id a d e, ele s t iv er a m u ma c o mp r e en s ã o a t é ma io r , po r q u e o s p e q u e n os e e u já n o t e i, e les já t in h a m u m p o u co d es s a m e n t a lid ad e d e n ã o d is c r im i na r . O s pe q u e n os t in h a m e ss a me n t a l ida d e, e o s g r a nd es n ã o . ” Essa professora aproveitou o m omento do Panamericano no Rio de Janeiro, quando a mídia, principalmente a televisão, se voltou para esse evento. Diversas televisões abertas, segundo a professora observou, transmitiram os jogos na íntegra. Ela inseriu dois aspectos importantes na discussão com seus alunos: primeiro, um a crítica do jornal ao alto investimento em infra-estrutura para os jogos, o questionando 47 quanto à falta de aplicação desse investimento em outras áreas, com o por exempl o, a da saúde, que é tão precária; e segundo, a pouca visibilidade e divulgação na TV de outro evento esportivo que ocorreu logo depois, que foram os Jogos Parapanamericanos, disputados por atl etas portadores de deficiência física. Interessante é constatar que ao mesmo tempo em que toda a sociedade, inclusive a televisão, discute a questão da inclusão soci al das pessoas portadoras de deficiência, percebe-se uma enorme discrepância de visibilidade pela TV dos dois eventos. Bourdieu (1997, p.52) observa que a televisão leva ao extremo essa contradição na m edida em que sofre mais que todos os outros universos de produção cultural a pressão d o comércio, por intermédio do índice de audiência. Os Jogos Panam ericanos tam bém foram tema da discussão d e outro professor entrevistado: “ E u f iz u m t r a b a lh o n a e s co la ba s e ad o n o P a n a me r ic a no . E u t iv e um a id é ia d e f a z er o s eg u i nt e : e u n ã o q u e r ia q u e os a l un os f iz es s e m u m t r a ba lh o s ob r e a s mo d a lid a d es o lí mp ic a s c o m ma is n ot or ie d a d e. H av ia m m u it as mo d a lid a d es q u e e le s n u nc a o u v ir a m f a la r e e u f iq ue i m u it o sa t is f e it o po r q u e eu f iz a nt e s d o P a n a m er ic a n o e n a s e ma n a d o P a n a mer ic a n o e u v ia a lu n o s d is c ut i nd o s o b r e m o da lid a d e s q u e n u nc a f or a m vist a s e q u e nu nc a f o i f a la do . Mas f ic a u m a c r í t ic a : ele s t iv er a m q u e c or r e r , g a s t ar s a p a t os , p or q u e n e m a int er n et c on s e g u ia d ot a r d e in f o r ma ç õ e s. E é o q u e nó s e st a m os f a la n d o, o vô le i, o futebol e o b a s q u et e , t in h a m todas as in f o r m aç õ e s , em c on t r a p a r t id a o ut r o s e s po r t e s q u e t a m b é m c o m eç a r am e ss e a n o c o m o P a n a mer ic a n o c on s e g u in do r e s u lt a do s e x pr e ss iv o s, e le s já s a b ia m e já c o n he c i a m p or c a u s a d es s a p es q u is a. E e u d ir e c i on e i m e sm o : n ã o q u er o q u e v o c ê s f a le m s o b r e v ô le i, so b r e b as q u et e e u q ue r o q ue v oc ê s v ã o p es q u is ar a t iv id a d es q u e v o cê s n u n c a o u v ir am f a la r , es p o r t e s q u e v o c ês nã o c o nh ec em, e f o i o q ue ac o nt e c e u . No f in a l e u v ou s e r a t é u m p o u co o t im is t a , pe lo me n o s n a es c o la q u e e u t r a ba lh o o a ss u nt o er a P a n a mer ic a n o d ir e t o, er a a m as sif ic aç ã o d o ev e n t o at r a v és d a t e le vis ã o . ” 48 O professor acima, também aproveitando o evento dos jogos Panamericanos no Brasil, propôs aos alunos que não enf ocassem os esportes já conhecidos e de grande divulgação na mídia, solicitou que procurassem esportes desconhecidos do grande público. A dificuldade dos alunos em encontrar inf orm ações sobre esses esportes, conform e relata o professor, confirma que a indústri a midiática se interessa apenas pelos esportes de grande apelo popular, que possam trazer um retorno financeiro e que apresentem um maior número de vencedores. Bourdieu (1997, p.123) também relaciona essa seleção a questões políticas, afirmando que cada tel evisão dá tanto mais espaço a um atleta ou a um a prática esportiva quanto mais forem capazes de satisfazer o orgulho nacional ou nacionalista. “ No P a n a me r ic a n o e u p e g ue i a q u e s t ã o d a va ia n a a b e r t u r a e d e t o d o o e ve n t o f o i t r a b a lh a d o c o mo u m J ú r i P o p ula r . O q u e e le s a ch ar a m e m r e la ç ã o à v a ia ? e a a t it u d e da t o r c id a ? c om p et iç õ es . A q u e la Se va ia is s o tem não s om e nt e be n e f í c io s ? ao Se Pr e si d e nt e , t em mas ma lef í cios ? durante Qual o t od as v a lor as e st á e m pr e ga d o n a a t it u d e da v a ia ? Es se é u m do s p r inc ip a is r e c u r s os , pr in c ip a lm e nt e q u a nd o v o c ê t e m q u e f ica r d e n t r o d e s a la d e a u la , q u a nd o n ã o p o d e d iv id ir q ua dr a o u q u a nd o c h o v e. E u ac r e d it o, a pe s a r d a m in h a c o m u n id a d e, e u t r a b a lh o c o m b as t a nt e a lu n o de as s e n t a me nt o, e os a lu n o s h o je s ã o c r í t ic o s, n ó s t e m o s ma is a l u n os c r í t ic o s d e q u e a cr í t ic os . ” Nessa fala, o interessante foi que não havia um a relação direta com o esporte na discussão, mas o professor chamou a atenção para a atitude do público na abertura dos Jogos Panam ericanos Esse tipo de discussão poderia inclusive envolver outras disciplinas, com o a Sociologia, por exem plo, pois envolvem questões de com portamento, questões políticas, de sociedade e outras que poderiam ser facilment e aproveitadas por professores de outras áreas. 49 Outros professores acrescentaram: “ E u ac h o u m r e cu r s o mu it o in t er e s sa nt e, d es d e q u e o p r of es so r co n s ig a f a zer u ma le it u r a c r í t ica d as r e p or t a g e n s e le v ar o a l u n o a s e p os ic io na r e a s e c o loc ar t a mb é m a s s u as o p in iõ es e nã o co mo u m a ve r d a d e . ” “ e u a c h o qu e é v á l ido s im, d es d e q ue es s a r e p or t a g e m n ã o t en h a u m f un d o t e n d e n c ios o e q u e iss o s e ja d ia lo g a d o t a mb ém c o m a cr ia n ç a , n ã o p o d e de ix ar u ma c r ia nç a s o f r er u m a o p in iã o imp os t a p e la mí d ia d iz e n d o a lg u m a c o i sa e se m v o c ê u sa r d es s e r e c u r s o e d e ix a r qu e e la s e ja v í t im a. ” “ O pr o f es s or d e E d u ca çã o Fí sic a , e le é o m e dia d o r , o or ie n t ad or , e l e va i sa b e r s e lec io n a r a q u ilo q ue é b o m, q u e é in t e r es sa n t e, qu e é pr o d ut iv o , o q u e n ã o é t e n d e n c ios o e v a i a p li ca r n a s u a d is ci p l in a . ” Aqui se percebe a importância da instituição escolar, tomada como um contraponto dos efeitos negativos da mídia. Como vimos, os depoimentos chamam a atenção para a importância da intervenção do professor: ele deve estar preparado para intervir positiva e ativamente nessa questão, para que a educação não se torne uma mera reprodutora dos efeitos negativos da mídia. Para Betti (1998, p.50), “não se pode penetrar na cultura audiovisual pela análise lógica, nem rejeitá-la preconceituosamente, sob pena de aumentar a distância e a falta de comunicação com os j ovens. Os adultos e os professores devem compreendê-la pela experiência da imersão e da exposição a novas linguagens audiovisuais”. Os relatos dos professores abaixo complem entam essa afirmação: “ E xa t a m e nt e n is s o , d ev e se r u s a do t o d o o ma t e r ia l, r e p o r t a g e ns e et c ? S im, d ev e s e r u sa d o . M a s d e pe n d e d a p o st u r a d o p r of i ss io n a l. Q u e t i p o d e t r ab a lh o e u es t o u f a ze nd o ? O q u e r e a l me n t e e u q u e r o c o m a s t u r m a s q u e e u t r a b a l h o ? M a is u m a v e z r e p r o d u zi r o q u e a t e le v isã o f a z ? Ex c lu ir ? E s s a é a p o st ur a qu e a t e le v isã o t e m, e n ós s ab e mo s q u e d e ac or d o co m as t u r m a s q u e n ós t r a b a lh a m o s, a i d a d e , o f oc o d o n os s o 50 t r a b a lh o, n ó s v a mo s co n st r u ir mu it a co is a b o a n e s s a c r ia nç a , e s e nó s jo g a m os ima g e ns d e s s a f or ma , co mo a c o leg a f a lo u q ue s ã o ima g e ns d e p e ss o a s p e r f e it as , ima g e ns d e p e ss o a s b r a n c as c o m o p a dr ã o p ar a t ud o, p a d r ã o p a r a o v ô l e i, p ad r ã o p ar a iss o e p ar a a q u i lo, p ar a o f ut e b o l s ã o p e ss o a s n e g r a s, p a r a o at let is mo s ão p es s o a s n e gr a s e q u e n ã o t ê m c on d iç õ e s , nó s v a m o s c o n st r u ir e m a is u m a v e z r e p r o d u zi r de nt r o d o e sp o r t e o q u e a mí d ia f a z co n o s c o n o n o s s o d ia- a - d ia. E nt ã o, é imp or t a n t e s e le c io n ar . É v áli d o ? É v á lid o . M a s é im p or t an t e s e le c i on ar . ” “ E u qu er i a di ze r q u e c ab e a í a f o r ma d e d isc u ss ã o , d a g e nt e jo ga r p a r a o a lu n o a f o r m a d e d is c us s ã o . V o cê s nã o p er c e b e r am n a d a n e ss a r ep or t a g e m q ue a g e n t e p o de d is cu t ir ? E ss a r e p o r t ag e m r e a lme nt e e s t á co m p let a ? E n t ã o , ca b e a í a f u n ç ã o d o p r of e s so r c om o m e d ia do r . ” “ Tr a z er o s e n so c r í t i co p ar a a s a la de a u la, v oc ê us a r t o d a s es s as s it u a çõ es e d es p e r t a r n o s e u a lu n o e s se se ns o cr í t ic o de v oc ê a c h a r q u e n e m t u d o é pe r f e it o e q u e e x ist e m s it u aç õ e s s oc ia is , e x ist e m c o ns t r uç õ es s oc ia is , o nd e ex is t e m es s as d if e r e n ç a s , v o cê pr e c is a m os t r a r p a r a e le q u e e xist e m co is as q u e t e m d if er e n ça s, e o n d e e x ist e e x c lu s ão vo c ê t e m q u e t r a b a lh a r c om o a lu n o es s a q u e st ã o d a ex c lu s ã o e d a i nc lu s ã o, f a ze r o a lu no c r ia r es s e s e ns o cr í t ic o n e l es . S e a r e p o r t a g e m é t e n d e n c ios a , v oc ê t e m q u e d iz er p ar a o al u n o q u e e s sa r e p o r t ag e m t r a z u ma me ns ag e m e m b ut id a , u m a me n s a g e m s u b l im in ar , v oc ê va i t en t a r t r a b a lh ar c o m o a lu n o, p a r a e le , v a i av a lia r s e a q u e la r e p o r t ag e m r ea lm en t e é d e int er e ss e d e le o u s e é d e in t er e ss e da pr ó pr ia t e le v is ã o q u e e st á c o l oc an d o n a r e p o r t a g e m. V o c ê t em q u e c o loc ar e m d is c u ss ã o, u s ar a r e p o r t a ge m co mo es p a ç o d is cu r s iv o n a s a la d e a u la . ” Os trechos acima confirmam a afirmação de Bourdieu (1997, p.23): “A Televisão tem uma espécie de m onopólio de fato sobre a formação das cabeças de um a parcela muito importante da popul ação”, e nós com pletamos dizendo que cabe ao professor a responsabilidade d e tentar junt o aos seus alunos superar esse monopólio de form ação, desconstruindo o discurso por vezes excludente da mídia televisiva, através do debate, da discussão. 51 O tem a tam bém é abordado no depoimento abaixo: “ E u a c ho q u e v o u d a r u ma op in iã o b e m pa r t icu la r , m a s é u m a c o is a qu e va m os o bs er v a r b em lá na f r e n t e. A t el ev is ão é m u it o e xc l u d e n t e, q u a n d o eu f a le i d os p or t a d o r e s e de E d uc a çã o Fí s ic a, m e s mo t e n d o p as s ad o a c r ia n ç a q ue f o i o b e s a m a s a pr e s e nt ou e la ma g r a , a g e n t e p er c e b e q u e o p er f il é t o d o i g u a l, t od os o m e n in os b r a n q u in ho s, a p a r e n t e m e n t e p e r f e it o s e a c r ia nç a a g e n t e a c h a q u e n ã o, m as e la p er c e b e e ss a s c o is a s, t r a b a lh an d o no ma g ist ér io há 14 anos eu já recebi q u e st i o n a m e nt os d e c r i an ç a s f a la n d o , eu t in h a um a lu n o q u e er a go r d o , e o s o u t r os f a la va m qu e s o m e n t e ma g r o é q ue jo g a v a b as q u et e. E u a c h o q u e a t e le v is ã o, nã o t e m c om o a g e n t e f a la r q u e a p es s oa t e m q ue t e r u m s e n so c r í t ic o, n ã o é , mas e l a é t ã o v is ua l q u e n ã o t e m c o mo v oc ê f a l ar q u e t e m qu e o lh ar p e l o o u t r o l ad o, q u e o ut r o la do s e a p r im e ir a c o is a q u e v oc ê vê é a i m ag e m, de po is v o c ê o uv e , d e p o is v oc ê ob s er v a e c om e ç a a . . . ” Já este professor tem uma visão bem “apocalíptica” da tel evisão, conforme a terminologia usada por Umberto Eco (2004). Embora tenha razão quando disse que o visual é o primeiro que chega, que a imagem é muito forte, ressaltam os que é possível através de debate contrapor a im agem e até propor ou mesmo inventar um a nova imagem, a partir do que foi visto na TV. “ E u p e d i a os me u s a lu n o s q u e as s is t is s e m ao s jo g o s p a r a ob s e r v ar e m a d in â m ic as d os jo g o s, o q ue r e a lme nt e é u m es p or t e d e a lt o ní v e l, m as a li e le s t in h a m q u e o u v ir c om e nt á r io s e p o st ur a s d e p es s oa s q u e o u er a m o u n ão d a ár e a e q u e e st a v a m a l i d ef e n d en d o o ut r os in t er e s s e s e c a pt a r a m t u d o iss o ne s s a s t r an s m iss õ es . ” Pôde-se aqui perceber que foi solicitado pelo professor que os alunos prestassem atenção especialmente no discurso dos profissionais envolvidos na transmissão, quando assistissem aos jogos — discurso que às vezes pode discriminar, estigmatizar, incentivar situações desonestas do jogo. Charaudeau (2006, p. 158) aponta que o narrador, para m anter a audiência, deve demonstrar suas emoções, fingidas ou sinceras, que se 52 destinam a dramatizar a narrativa e incitar o telespectador a compartilhar o entusiasmo, a indignação ou o sonho. E por fim os entrevistados também apresentaram dificuldades no uso das reportagens em sala de aula. Vejamos trechos de alguns depoimentos: “ E u já de s e n vo lv o u m t r ab a l h o sist em á t ic o e m ní v e l de le it u r a d e mí d ia imp r e s s a , e u v o lt o n a q u e la qu es t ã o d o t em p o q u e n ó s t e mos c o m o s n o s s o s a l un os . E n t ã o , é in t e r es s a n t í s simo d e s e nv o lv e r u m t r ab a lh o c r í t ic o , s ó qu e u m t r a b a lh o cr í t ic o e le r e q u er t e m po e s e v o cê t e m p o u c o t e m p o c o m es s es al u n os , v oc ê r e a lme n t e l ev a r à f r e nt e e ss a cr it ic id a d e é c o m p lic a d o . E n t ã o , v o cê t e r ia q u e t e r u m t e m p o pa r a as s ist ir , d e p o is d e b at e r pa r a c h e g ar à s c o nc lu sõ es . V o c ê p r ec is a g as t a r t r ê s o u q ua t r o a u las p ar a p o d e r c he g ar n i ss o, e vo c ê nã o t e m, a t é p or q u e ex is t e a e x ig ê n ci a de le s d e f a ze r u ma p ar t e pr á t ic a e t a l. O c o r r e q u e e u já t iv e a r e s ist ê n ci a d e p a is e d e a l un os e m f a z er u m t r ab a lh o d e ss a n at u r e za p o r q u e " g as t o u- s e mu it o t em p o d a a u la " , mas me s m o as s im eu f iz e já c h eg u e i n u m m o de lo qu e n ão s e g as t a m u it o t e m po da a u la , q u e é f a z er o t r a ba lho e m c a sa , qu e é um a o u t r a cr í t ic a q u e f a ze m p or f a ze r o t r a b a lh o em c a s a . A m in h a ma io r d if icu ld ad e f o i n a es c o l a p a r t ic u l ar , p o r q u e n a e sc o l a p ú b lica os a lu n o s t r a z ia m a r e p o r t a g e m s o b r e a qu ilo q u e e r a p e d id o p ar a el es , e n a es c o l a p ar t ic u la r o s p ais a r r u m av am u m je it o d e b ur la r a s r e g r as d o q u e e u t in h a p e d ido . E nt ã o , é int e r es s a n t e , q ua n d o v oc ê c h e g a c o m u ma p r op os t a d es s a t e m r e s ist ê n c ia a t é d a di r eç ã o . E u já t iv e na d ir e ç ã o d e e s c o la o p a i c o n v er s a n do a r e sp e it o d e ss a m e t o d o lo g ia e s e m a m in h a p r e s e nç a. E n t ã o , e x ist e r e s ist ê nc ia a es s e t ip o de t r a b a lho p or p ar t e d e d ir e ç ã o d a es c o la , d e p a is e d e a lu n os . V oc ê t e m p o u c o t e m po p a r a de s e n vo lv er e ss e t ip o d e t r a b a lh o c o m ba st a n t e p r of u nd id a d e, m a s e u a ch o d e ex t r e m a r e le v â nc ia . ” “ Ta mb é m t r a b a l h e i p o r u m b o m p er í o d o c o m e ss a s r e p o r t a g e n s , a g e nt e t e m t r ês a u la s se m an a is, n o q ue d e s sa s t r ês eu s e mp r e us e i um a pa r a f a zer m o s e s s a le it ur a c r í t ic a dos e sp or t es , in c lu s iv e e nc on t r e i es s a d if ic u ld a d e t a mb é m d os al u n os c on s e g u ir e m a s r e p or t a g e ns s o m e nt e n a ár e a d e E d u c aç ã o Fí sic a . En t ã o, e u a b r i p ar a q u e t r o u x es se m q u a l q u er r e p o r t a ge m s o br e a E d u c a ç ão , p a r a q u e p u d és s e m o s f a ze r u m a le it u r a, p or q u e s e m a n a l me n t e e r a t r a b a lh a d o u ma au la , e r a m t r ê s a u l as , du as 53 p r át ica s e u ma t e ó r ic a, n ão n e ss a s e qü ê n c i a e x a t a m e nt e, e u m a e le s f ica r ia m p ar a f a ze r as a pr e se nt aç õ e s e e u d e ix a v a ju st a m en t e p a r a c as a , r e u ni am - s e e m gr u po s e p e g av a m a s r e p o r t ag en s pa r a c o lo c a r e m a lg um a c o is a a r e s pe it o de la s e n ós f a ze r mos u m c o m e n t á r io n a s a la a a br ia m p a r a as d isc u ss õ e s . . . A p r in c ip i o e u in ic ie i c om a E d uc a ç ã o Fí s ic a. C o m o o c o le g a c o lo c o u a nt er io r m e n t e , e u a ch av a m u it a c o is a s ob r e Fu t eb o l, s o b r e a v id a p e ss o a l d o a t le t a A ou B o u d a mo d a l ida d e e n ã o a cr e s c e nt a v a m u it o . D e p o is e u f u i t r a ze n d o r ep or t a g en s d e e d uc a ç ã o e m g e r a l pa r a a g e n t e d is c ut ir o pr o c e s so e m ge r a l. ” “ E u e n c o nt r ei e ss a m e sm a d if ic u ld a d e p or q u e a m in h a p r op os t a i n ic ia lm e nt e er a a s eg u i nt e : s e e u t iv es s e t r a b a lh a n do v ô le i, e le s ir ia m at r á s d e r e p o r t ag em d e v ô l e i, se e st iv e s se t r a b a lh a n d o xa dr e z, r e po r t a g e m d e x a d r e z, e as s i m p or d i an t e. Eu t iv e r e a lm e nt e q u e ch e g a r n u m p o nt o e p ed ir pa r a e les q u e d u r a n t e o b i m es t r e e les t r a ze r e m u ma d e x a dr e z e as o u t r a s d e E d u ca ç ã o Fí s ic a e m g e r a l, e g er a lm e nt e er a d e Fu t e b o l. E n t ã o, e u c r ie i u m m u r a l n a es c o la e e s s a s r e p or t a g e ns e r a m c ol oc ad as s em a na lm e nt e . At é ou t r a s p es s o a s e o s p a is q u e es t a va m v is it an do t in h a m ac e ss o a is s o. Es sa s r e p or t a g en s e r a m a b er t as p a r a a I nt e r n e t , nã o e r a s o me n t e jo r n a l imp r es s o, p o di a m pr o cu r a r n a I nt e r n et , m es m o a ss im e le s t iv e r a m d if ic u ld ad e d e a ch ar e m o ut r as c o is a s q u e nã o f os s e Fu t e b o l, d o V ô le i t a mb é m, p or q u e d o V ô le i e x ist e m u it a co is a. ” Os professores acima relatam algumas das dificuldades de se usar essa metodologia, dificuldades com o: o pouco tempo para as aulas de Educação Física, a resistência dos pais e inclusive da direção da escola, a dificuldade dos alunos em encontrar reportagens sobre determinados esportes. Ainda assim, pelos relatos, podem-se verificar soluções criativas, como realizar algum as atividades fora do horário de aula, tais como a pesquisa a reportagens, assistir programas e filmes em casa para debater em sal a, pesquisar não apenas sobre o esporte e a Educação Física, mas também sobre a educação de maneira geral. Isso demonstra que, apesar das dificuldades, é possível ao professor desenvolver esse trabalho, com boa vontade, persistência e cri atividade. 54 Outras questões que orientaram o debate e serão destacadas abaixo para a discussão foram: Você discorda da forma ou da opinião colocada na reportagem? Por quê? Você concorda com a tese do livro de José Delia, que elabora um quadro com as características de cada esporte? Você acha que a TV tende a um certo direcionam ento de opiniões, atitudes e comportamentos? Na sua opinião isso é positivo ou negativo? Em relação à questão “Você discorda da forma ou da opinião colocada na reportagem? Por quê?”, embora o foco da questão tenha sido desviado ao longo do debate, foi possível perceber que a maioria dos professores discorda da form a como foram apresentadas as reportagens. Com relação à primeira reportagem, discordam por acharem que ela apresenta uma realidade diferente da maioria das escolas brasileiras, por fragmentar a realidade do esporte e por enfocar pouco o papel do professor. Em relação à segunda reportagem, eles questionaram o fato de as pessoas assumirem o papel que teoricamente seria do Estado; não houve um a crítica quanto à reportagem em si. Destacamos abaixo alguns trechos das respostas dadas a essa pergunta. “ E u d is c o r d o d o f oc o d a r e p o r t ag e m, qu e e la f o c a a E d uc a çã o Fí s ic a c o m o a s a lva d o r a do pr o b le m a em si. . . ” “ O v í d e o c o lo c a o e sp or t e c o mo um a s o lu çã o p a r a e d u ca r o a lu n o , au m e nt a r a a ut o e st i ma, m o st r a a ss im t u d o ma r av ilh os o , t u d o pe r f eit o, t od os o s r e c ur s os , t o d o mu n do f e liz, t od o mu n d o s a u d á v e l, be m a li me n t a d o, c a lç a do , e a no s sa r e a lid a d e é b e m d if e r e n t e, a g e nt e s a be co m o a m a io r ia d os br a s ile ir os , p r inc ip a lm e n t e t r a b a lh a n d o c om n os s os a lu n os , e u t a m b é m n ão t e n ho e xp er i ê n c ia d if e r e n t e d a s c o le g a s e a l un os q u e n ã o t ê m s eq u e r u m t ê n is p a r a p ar t ic i pa r d a s au las . A co m pa n h a n d o a r e p or t a g e m e u f iq u e i pe ns a nd o, o c on s e lh o d e les e r a q ue a c r i a n ç a at é o s 1 0 a n o s t e r ia q ue p r at ica r t o d os os es p or t e s, c o m o s e as cr i an ç as h o je e m d ia t iv es se m t od a s es s as 55 p os s i b i lid a d es , co m o se e le s t iv es s e m a c es s o a t ud o is s o, a t od os os e s p or t es , t iv e ss e m t o d a a co nd iç ã o, o s p a is e s s e t em p o e e ss a o r ie nt a ç ã o pa r a e nc a m in h á - los p ar a es c o l in h as d e es po r t e s. ” Os dois comentários acima cham am a atenção para um importante aspecto presente no discurso da mídia, do governo, da sociedade em geral, que é a idéia de que praticar esporte seria a solução para diversos problemas sociais. Diz-se: “praticar esporte livra das drogas”, “a prática esportiva regular ajuda no com bate à violência”, com o se isso fosse uma verdade absoluta, mas se esquece que no esporte há a questão do dopi ng, da violência, ambos incentivados pela excessiva competitividade comum ao esporte de rendimento. O esport e pode sim ajudar no com bate às drogas, à violência, mas para isso precisa ser melhor com preendido e praticado. A prática, por si só, vazia de valores agregados não é capaz de transf ormar o esportista no “herói” da sociedade moderna. A esse respeito, Assis (2005) afirma que: “ . . . co mo a e s c o la , o es po r t e n ão s er v e de f o r m a a b s o lu t a à r e p r o d u çã o d a s o c ie d ad e c a p it a list a . C a be , n o e n t a nt o , p a r a n ão f ic a r ap e n a s n o p la n o d as p os s i b i lid a d es r e a is d o es p o r t e se r u ma o u ou t r a c o isa . A q u es t ã o é sa b er , p o t e n c ia lm e n t e , p e las su as c ar a c t er í s t ica s i nt r í ns ec a s e p e lo se u p a p e l ec o n ô m ic o e p o lí t ico , p ar a q u e la d o o es p o r t e p en d e m a is , a q u e p r o jet o s e a ju st a me lh o r ? [ . . . ] N ão le v a r em c o nt a o ex a m e d a s po s s i b ilid a d es p o d e c on d u z ir a um r e la t iv is mo c ap it a lis m o p od e s er p er s p e c t iv a d ia lé t ic a , e x t r e ma d o , t r a t a do ou s e ja, em que r o m an t ic a m e n t e tanto po d e o pr ó p r io s ob a u me nt a r es s a s ua c ap ac id a d e d e f a ze r ma l, c om a c ap ac id a d e d e f az e r b e m” . ( p . 1 1 3- 1 1 4 ) Os entrevistados tam bém cham am a atenção, como vimos, para as diferenças entre as condições das escol as em que trabalham e das escolas mostradas na televisão: 56 “ Q u al é o in t er e s s e ? E x ist e in t er es s e n o p o d er , ex is t e m int e r es s e s d e a lg um a pa r t e e n a r e po r t ag e m m o st r a mu it o a r e a lid a d e d a Z on a S u l d o Ri o d e J an e ir o, e sc o las d a Zo n a S u l d o R io d e Ja n e ir o n ão s ã o as E sc o l as P ú b lic a s do Dist r it o Fe d e r a l, a d if e r e n ç a é im e ns a, d e es t r u t ur a e d e t u d o . ” “ f o i e n f o c a da a a t iv id a d e f í s ic a, e a Ed uc a ç ã o Fí s ic a e s co la r f oi ma is a b o r d a d a no a m b ie nt e t o t a lm e n t e a d e q u a d o e m t e r mos d e m a t er i ais, f o i a b or d a d a pr a t ic am e nt e n as e sc o l as p ar t ic u la r es , c om alu n o s v is ive lm e nt e b em t r a t a d o s. ” “ é m u it o bo n it o, o int er e ss a nt e f oi q u e n o ví d e o mos t r o u o C lu b e P inh e ir os de Sã o P a u l o, co mp l et a m en t e e st r u t u r ad o, c o m t od o o e q u ip a me n t o, co m v ár i as o pç õ es , b a n c o s u ec o, b o las , ma t e r ia l p a r a se t r ab a lh a r o r ec r e a t iv o d e n t r o d a m o d a l ida d e e sp or t iv a , m as a r e a l id a d e d o p r of e s s o r , p r in c ip a lm e nt e d e es c o la pú b lic a , lo n g e d is so ou de c o m u n id a d es de S ã o P a u l o, d o Ri o d e J a n e ir o o u d a s gr a nd e s c id a d es , is s o n ã o f o i mos t r a d o , f o i mo st r ad o c o m o o es p o r t e é imp o r t a n t e , in clu s iv e, o e s p or t e d o i ní c io da r e po r t a g e m, q u e f o i d o m e n in o qu e e m a g r ec e u e m f u nç ã o d e t e r p r at ic a d o e sp or t e, e l e f a z p ar t e de u m pr o gr a ma q u e t e m o a p o io d e um h os p it a l, d o A lb e r t E ins t e in, q u e in ve s t iu c o m e q u ip a m e nt o e t u d o, a g o r a s er á q u e n ós c o n s e g u ir í a m os r e a lm e nt e le v ar o e s p o r t e d o je it o q ue a g e n t e q ue r nu m a c o mu n i da d e ma is s im p les o u c om f a lt a d e r ec ur s o s, qu e é o q u e ac o n t e ce c on os c o n a S ec r e t ar ia d e Ed u c aç ã o ? ” Aqui se percebe um destaque para um a tendência da TV de generalizar, tratar situações específicas como se fossem únicas. Exibe-se um a reportagem de situações bem sucedidas, particulares, desconsiderando o universo de situações diversas. A realidade de um colégio de um bairro de classe média-alta é totalmente diferente da realidade de um colégio de um bairro pobre. Percebemos aqui um a característica da globalização que expõe o que é belo, o que dá certo, e “empurra para debaixo do tapete” a pobreza, a miséria, a fome. Não querem os desconsiderar as situações bem sucedidas apresentadas, querem os apenas que se reflita: será que é possível, nas condições existentes, realizar um trabalho com o aquele que foi apresentado? A TV não deveria ter também o papel de mostrar outras situações mais 57 condi zentes com a realidade social mais comumente encontrada no Brasil? Além das críticas quanto ao fosso existente entre as situações tel evisionadas e aquelas vivenciadas pelos entrevistados, eles também cham am a atenção, em suas falas, para outras questões de ordem política e soci al: “ n o f in a l p e g ou a q u e la q u e st ã o d a E d uc aç ã o Fí s ica c o m a p ist a, m a s vo c ês v ir am q ue o p r of es s o r t ev e q ue sa ir de d e nt r o d a es co la e f a ze r u m es pa ço co m a a ju d a d e o ut r a s in st it u iç õ es , q u e já t in h a q u e t e r d ad o o r e sp a ld o d e n t r o d a es c o la . ” Uma questão im portante a ser discutida: o ci dadão cansado de esperar passa a fazer o papel do Estado, o que é típico do Estado neoliberal. Idéias do tipo “faça você mesmo, não espere”, e o Estado vai ficando cada vez mais desobrigado de cumprir o seu papel, e ist o com o incentivo da mídia. Os entrevistados também se referem à utilização, pela TV, dos ícones dos esportes, com o se pode observar nos trechos selecionados abaixo: “ O u t r a c o is a , p e g ar a m u m a p es s o a v e nc e do r a, q u e es t á n a mí d ia , o Be r n a r d in h o , e q u e es t á c o lo c a nd o p e ss o a s p a r a v e n c er , t en t ar a m f a ze r u ma bo a p r o p a ga n d a c o m o B e r n a r d in h o da im po r t â nc ia do s e u es p o r t e co m o u ma p e ss oa v e n ce d or a qu e e le é, e e st á c o l oc a n do o ut r a s pe s s o as p ar a v en c e r e m e v e n c e n d o ju nt os . ” “ n o â m b it o d o e s po r t e, n o â m b it o ed uc a ci on a l, q u a n d o v o c ê m e n c io n a u ma p e ss oa q u e é í d o l o c o mo r ef e r ê nc ia , v o cê e st im u la de a l g u m a f o r ma q u e o a lu n o bu s q u e de a lg u ma f or ma s e es p e lh ar n a qu e la f ig u r a d e e x p r es s ã o na c io n a l p a r a t a mb é m b us c a r v en c e r , e e u a c r ed it o n iss o. ” “ S o br e a q u e st ã o d a p r o p a g a n da . A pr o p a g a n da é a p r óp r ia m a n u t e nç ão da mí d ia . A p os t o q u e v o c ê p r es t o u ma is a t e n ç ã o n o q u e o B er n ar d in ho f a lo u, ma s a o s le i g o s , os p a is , p r e st a r am ma is a t e n ç ã o n o B e r na r d inh o , t e or ic a m en t e, d o q u e n o au t o r d o livr o . ” 58 O que foi dito acima é de fato uma característica muito presente na TV, apresentar vencedores, como forma de espelho, de exem plo a ser seguido. Bracht (2005, p. 118) diz que a vida dos heróisatl etas se constitui de grandes aparições, entrevistas pessoais, etc. Eles jogam um interessante jogo que transform a o estado coti diano mais ou menos racional num turbilhão de emoções, e nisso consiste seu poder. “ A g o r a v oc ê f a lo u d a t ele v is ã o e e u f iq u ei ob s e r v a n d o as ima g e ns q u e e le s jo g ar a m, t in h a u m a m ã e c h o r a n do e e m oc io n a da , q ue o e s p o r t e m u do u a v i da do f ilh o d e la, e is s o m ex e c o m a g e n t e . Ra r as v e ze s a g e nt e vê cr i an ç a s m a r a v ilh o s a s , um a c o is a lin d a, p a r t ic ip an d o e jog a nd o c o m t od o a q ue le mat e r ia l, m o s t r a o e sp or t e m a r av il ho s o , d e p o is v oc ê vê v á r i os go r d i nh os p ar t ici p a n d o, um n e g r o a b r aç a n d o u m br a nc o, e t o d a a q u e la h ar m o n ia , c o m o s e t o d a a s o c i ed a d e f o s se p e r f e it a e m a r a v ilh o s a e o e sp or t e t a m bé m v i es s e, a ú n ic a c ois a q u e f alt a p ar a o s e u f ilh o é o e s p or t e , a q u i é d es s e je it o e t al. E u ac h o q ue e s s e v í d e o é u m a r e a l id ad e d e u m a d e t er m in a da c las s e q u e n ã o é a m a io r ia d os br a s ilie n se s, e u a ch o q u e dá at é u m a a n g ú st i a u m p a i v e r u m ví d e o d es s e e d iz e r as s im: — Pox a , a o n d e e u v o u c o lo c a r o m e u f ilh o s e m a l t e n h o d in h eir o p ar a le v á- lo à e sc o la, m a l t e n h o di n h e ir o p a r a c o m pr a r u m t ê n is, p a r a c o mpr a r c om id a ? At é nó s , pr o f es s or e s , e u t en h o m e u f ilh o p e q ue n o e f ic o pe ns a n d o e m q u e c on d iç õ es eu t e n h o p ar a m an d a r o me u f i lh o ? N o lu g a r o n d e e u mo r o n ã o t e m t a nt a e st r u t u r a, e a o n de e u v ou m an d a r ? E nt ã o , e u a c h o q u e é an g u s t ia nt e , v oc ê vê as s im, d e u m m o d o g er a l, a ma i or i a d os v í d e os c r ia m u m c e n ár io m a r av il ho s o e q u e n ão é a n os s a r e al id a d e , a g e n t e f ic a q u e r e n d o b us c ar , q u er e n d o p e ns ar da q u e l a f o r m a, q u e é s om e nt e vo c ê t e r v o n t a d e , qu e é so m en t e v o cê qu er e r , so m e n t e v o cê b u sc a r , e n a r e a li d a d e n ão é be m a s s im, e xist e m o ut r a s q u es t õ es e nv o lvi d a s. ” Esse relato retrata e resume bem a discussão em torno da questão proposta, isto é, a reportagem expôs tudo como perfeito, sem conflitos, sem contradições. Mas na f rente da TV há um público que nem sempre é alienado, que consegue perceber as coisas com um a certa clareza, conforme dissemos anteriormente (p.17): “Entre a intenção de quem veicula a imagem e o efeito que ela produ z, existe o telespectador, dotado de diferentes níveis e capa z de gerar diversas interpretações das 59 mensagens. É ele o principal alvo da mídia. Ele pode ser um mero tel espectador passivo, consumidor de informações e produtos, ma s também pode ser um agente crítico capaz de filtrar e interpretar criticamente o que lhe é transmitido. A escola certamente pode desempenhar um importante papel na formação de tais telespectadores críticos ”. A visão deste e dos outros professores confirma o que afirmamos anteriormente. Quanto à questão “Você concorda com a tese do livro de José Delia, que elabora um quadro com as características de cada esporte?”, pode-se perceber que em geral os professores pesquisados discordam da tese elaborada pelo autor, principalmente por não esclarecer quais os parâmetros que ele utilizou para chegar a determinadas conclusões. Mas houve questionamentos também quant o a afirmações categóricas, generalizações e simplificações. Entendemos serem relevantes para análise os seguintes trechos: “ E u p o s s o at é n ã o c o n co r d a r c om o q u e e le f a lo u , os it en s q ue e le c o loc o u, m a s q u e e ss e t r a b al h o a l ia d o à e d u c aç ã o n o e nf o q u e de e ns in o e a p r e n d iz ag e m c o m E d uc aç ã o Fí s ica , s im” . “ E u ac h o q ue alg u ma s co lo c a çõ e s d e le m u i t o f in it as , is s o r e s o lv e, iss o r es olv e is so , c o loc a q u e e ss a mo d a lid a de va i f a zer a d if e r e nç a e v a i c o r r ig ir , o Fu t s a l, el e c o loc o u q u e t ir a a g r es s iv i d a d e e d e p en d e n d o d o a lu no ge r a a gr e s s iv id a d e . Ex is t e m a lgu m as c o loc aç õe s q u e e le c o l oc a q u e s ã o m u it o f in it a s” “ E u d is c o r d o e m p a r t e d e a lg u ma s co is as . P r im e ir o d as d iv er s as m o da lid ad es e sp or t iv a s , a pr i m e ir a cr í t ic a f o i e s s a . O ut r a p o r qu e d e p e n de d a f or m a c o m o es s e e sp or t e é t r a b a lh a d o , pa r a a in d is c i pl in a e l e c o lo c a q u e o m el h o r ali é o J u d ô p ar a t r a b a lh ar a d is c ip lin a , mas e u p os s a t r ab a lh a r a d is c ip l in a e m q u a lq u er o ut r a mo d a lid a d e t ão b e m ou a t é m e lho r q u e n o J ud ô. A q u es t ã o d o a ut oc o n t r o le, d a v io lê n c ia t a m b é m, e o s e s p o r t e s c o l et iv o s e os es p or t e s d it o s d e c o nt a t o f av or e c e m 60 is s o. Eu n ão c on c or d o c o m e ss a c la ss if i ca çã o g e n er a liz a d a , a ss im, p a r t ic u lar d o e sp or t e, n ão c o n c o r do co m es s a q ue s t ão q u e s o me n t e a q u e l e e s p or t e é me lh or p ar a a q u ilo , m a s a f o r ma c o m o e s p o r t e é t r ab a lh a d o . ” Esses depoimentos sugerem que, sem estar aliada à educação, a prática desportiva fica esvaziada quanto à aprendizagem de conteúdos sociais, cognitivos, afetivos e m otores. O esporte por si só não é capaz de agregar todo o conteúdo. O professor como mediador da aprendi zagem é essencial nesse processo. “ E l e c o lo c a c o mo f ixo e n a Ed uc aç ã o Fí s ic a e s c o la r vo c ê nã o t e m c o mo s e p a r a r o a lu n o. V oc ê t e m q u e e xp e r im e n t a r a s d iv e r s as o p in iõ e s ? E u n ã o c on c or d o c o m a c la ss if ica ç ã o d o livr o de le n ão . ” “ E u d is c or d o d a f o r m a c o m o f o i c o l oc a d a, e s sa e s p e c if ic aç ã o d e ca d a m o d a li da d e , d as h a b i lid a d es d es e n v o lvid a s, a t é p o r q u e e x is t e m a lg um a s q u e s ão m ei o in t r í n s ec as n a f o r m aç ã o d a cr i a n ça e n ã o t e m co m o u ma o u du as a u la s o a lu n o v a i f ica r ma is c a lmo . V oc ê t e m a c o m pa n h a r o d es e nv o lvi m en t o d e ss a c r ia n ç a d o in í c io d o a n o let iv o a t é o f i n a l p a r a v oc ê n ot a r s e h o uv e o u n ã o u ma a lt e r aç ã o n e s s e c o m p or t am e nt o . Niss o e nt r a a qu e st ã o d os pa r â m e t r o s, q u a is o s p ar â m e t r os q u e e le u t ili zo u e n ã o d e ix a cl ar o is s o. ” Aqui é interessante perceber a questão da fragmentação, que é uma característi ca da televisão a ser discutida na questão a seguir. Mas já se pode perceber, nas falas dos professores, que essa fragmentação gera generali zações das quais os professores discordam, como se pode ver nos trechos citados acima. O aluno é um todo complexo, influenciado por diversos condicionantes sociais — família, amigos, televisão, escola — ou seja, não se pode simplesmente di zer que tal esporte resolve um a questão como agressividade, por exemplo, sem saber o que levou aquele aluno a ter um comportam ento agressivo. E 61 ainda, como ponderou o professor, o desenvolvimento da criança deve ser acompanhado ao longo do ano letivo. “ E u p os s o e st a r s en d o p r ec ip it a da e m q u es t io n a r , p or q ue e u n ã o s e i q u a is o s p a dr õ es q u e e le u t ili zo u p r a c h e g ar n a q u e le r es u lt a d o . O q u e e le ut i liz ou pa r a a n a lis a r qu e a n at a çã o sã o a q u e le s t r ês p on t os q u e e l e u t il iz ou , e n o b as q u et e. . . ” “ E u pr e s t e i a t e nç ão e a t é a c h e i gr a ç a, f i q u e i p e ns a n do co m o s e r ia o m e u , o u e n t ã o p e n s e i n o a lu n o , o q u e se r á q u e o me u a lu no d a r ia ? E o m e u a l un o d ar i a p ar a is s o . V e r a r e p or t a g e m e u ac h o q u e é p o u c o, s e r ia l e g a l a g e n t e le r o t ex t o p a r a s a be r s e e le s e b as e ia e m alg u ma pe s q u is a, s e e le o b s e r v o u o c o mp o r t a me n t o d as c r ia n ç as , ma s e u ac h e i i nt e r es s an t e , qu er ia sa b e r c o mo el e c h e g o u a es t a co nc lu s ão . ” Aqui fica claro que a reportagem não esclareceu que parâmetros o ref erido autor utilizou para chegar àquelas conclusões. Um problem a da TV é a apreentação de um fato ou idéia como se fosse verdade, sem discutir ou mesmo escl arecer as variáveis e condicionantes para que se tenha chegado a determ inadas conclusões. Bourdi eu (1997, p.19) diz que o “acesso à televisão tem como contrapartida uma formidável censura, um a perda de autonomia ligada, entre outras coisas, ao fato de que o assunto é imposto, de que as condições da comunicaçã o são im postas e, sobretudo, de que a limitação de tempo impõe ao discurso restrições tais que é pouco provável que algum a coisa possa ser dita”. Observou-se nos discursos dos professores, porém, que eles não se calaram diante das restrições do discurso televisivo, mas estiveram atentos às suas contradições. Houve um único professor que concordou com os argum entos do autor: “ E u c o n c o r d o c om o e nf o qu e qu e e le dá d e a lia r a s d is c ip lin as c o m a E d uc aç ã o Fí s ic a p ar a v e r a pr in c í p i o n o d ia - a- d ia d a c r ia n ç a . N ão es t o u f a la n d o n e m de a d o l es ce n t es , ma s e u já co m ec ei pe n sa n d o na e d uc a çã o inf a n t il e n o e n sin o f un da m e nt a l. ” 62 Mas m esmo este professor concorda que tudo isso deve estar aliado com a Educação Física, ou seja, que o esporte como prática isolada talvez não alcançasse os resultados apresentados pelo autor. A próxima questão debatida foi “Você acha que a TV tende a certo direcionamento de opiniões, atitudes e comportamentos? Em sua opinião isto é posit ivo ou negativo?” Quanto ao direcionamento de opiniões, comportamentos e atitudes, a resposta foi unânime, todos acham que sim, embora não tenha ficado claro se a maioria acha isso positivo ou negativo. Não consideramos isso um problema, mesmo porque não temos interesse em quantificar as opiniões, pois nossa pesquisa é puramente qualitativa. Destacamos abaixo trechos de depoimentos que nos ajudaram a entender suas opiniões e que em basaram nossas análises. Como se poderá observar, as opiniões emitidas extrapolaram os limites da questão inicialmente apresentada. “ E u a ch o t am b é m u m po nt o n e g a t iv o, q ue m u it a s v e ze s o e x - at let a n ã o es t á ha b i lit a d o p ar a f a lar d e c e r t as c o isa s c o m inf or m a ç ã o e t u do . M as e m a lg u ma s r ep or t a g en s q u e e u as s is t i at é u m v i p o n t os p o s it iv os d e a lg u n s a t le t as q u e s a í r a m d a p e r if er ia e c o loc ar a m es s a q u e st ão , q u e o e s p or t e d e a lt o r e n d i m e n t o n ã o é p ar a t o do s, e e u v i mu it a s r e p o r t ag e ns n e ss e se nt i d o q u e e u a c h e i in t er e s sa nt e , o a t le t a co lo c a n d o q u e n e m t o d o s o s c o l eg as qu e c om e ç a r am a f a z er v o l e ib o l c o m e le es t ã o lá ho je, q ue r d izer um a m in o r ia, e le p er d e u e s s e s c o le g as p e lo c a m in h o e ho je e le e st á lá n o e sp or t e d e a lt o r en d i me n t o. E u ac h o qu e e s sa s r ep or t a g en s q u e f o r a m c ol oc a d a s s ã o p os it iva s, m a s se m pr e t em e ss e s a s p e ct o s n e g a t iv os q u e à s ve ze s n a h o r a d e f a ze r u m co m en t á r io o u um a c o lo c aç ão , t e c n ic a m e n t e f a la n d o , e l es n ã o es t ã o h a b il it a d o s. A g e n t e q ue a ss is t e d e um a f o r m a m ais c r í t ic a es sa s r e p o r t ag e n s, pe r c e b e m os q u e e le n ã o es t á ha b i lit a d o p ar a e st a r a li. I nc lu siv e , v oc ê v ê o ex - a t le t a c o r r ig i n d o o c om e nt a r is t a e v ic e- v e r sa , e le co r r ig ind o o a t le t a, q u er d izer , u m c or r ig in do o o u t r o e a g e nt e c an s a d e ve r is s o. ” 63 É interessante observar aqui que o professor achou positivo alertar os jovens que o esporte de alto rendimento não é para todos. Ao mesm o tem po, porém, não se pode negar a valori zação social do esporte e do esportista, o glamour que envolve o esporte, as reportagens sobre o “carrão” que aquele jogador de futebol com prou, a mansão onde m ora aquele outro, as mulheres que fulano conquista — tudo isso traz no imagi nário das crianças e dos j ovens a ilusão de que aquilo é facilmente conquistável e que é o caminho para a felicidade. Segundo Motagner & Rodri gues (2003, p.58) “crianças e adolescentes sofrem um a maior influência do esporte-espetáculo e conseqüentemente de seus ídolos, pois estes são vistos muitas vezes como heróis”. “ E u a c ho q u e a t e lev is ão jo g a in f or ma ç õ e s f r a g m e nt a d a s , e ss a é a le it u r a q u e a p r ó p r ia mí d ia ut i liz a pa r a a t r air a at e n çã o d e q u e m e st á as s i st in d o de t e r m ina d o p r o g r a ma , e c o nc o r d o em p ar t e c o m o q u e o a ut o r De l ia co lo c a n o d ir e c io n a me nt o da mo d a lid a d e e m r e la ç ã o à ár e a q u e o g ar o t o v a i at in g ir e d is c or d o e m p a r t e, p or q u e t o d a s as m o d a lid a d e s e s p or t iva s , n ã o d i st in g u i n d o n e m u m a e n e m o ut r a, va i p r o m o v e r a o a lu n o a s e ns a ç ã o d e v e nc e r , n a p r át ica , c om o o s c o le g a s f a la r a m a q u i. A s en s a ç ão d e f ic ar p ar a d o, d e v o cê t e r q u e es t a gn ar a lg o q u e v oc ê a pr e n d e u d ur a nt e d et e r m in ad o t e m po e vo c ê f ic a r pa r a do , pa r a r ec o m e ç a r n u m a o u t r a leit ur a, é at r av és d o e sp o r t e q u e v oc ê c o n s e gu e d e s e nv o lv e r is s o n a pr á t ic a, v o c ê c o ns e g u e r e s p e it ar o e sp aç o , a v e z do ou t r o , sã o a s r e g r as q u e d e l im it a m is s o , m as v o c ê n a c o n v iv ê n c ia d ur a nt e a r e a lizaç ã o d e u ma a t iv id ad e e s p o r t iv a, vo c ê e st á d e n t r o d e u m es p aç o q ue v oc ê a pr e n d e a r e s p e it ar es s as r e g r as , e n o c o nt e xt o g e r a l e m r e la ç ã o a v e n c e r d et e r m in ad a mo d a lid a d e s er b e n éf ic a p a r a v oc ê a t in gi r u m o b je t iv o, t o d a s e la s s ã o p or q u e t o d as e las le v a m vo c ê a v e nc e r , o f in a l do jo g o t e r m in a c om u m v e nc e d o r e u m pe r d e do r , e is so é u m f a t or s o c i a l h o je, a lg u n s ve n ce m, os m e lho r e s v e n c em e os ma is f r a c o s p er d e m. Co nc o r d o t a m b é m e m r ela ç ão à mí d ia de t e r es sa inf lu ê n cia d ir et a d e jo g ar a s i nf o r m a çõ es f r a g m e nt a d a s co m a l e it ur a pr ó p r ia d a t e l ev is ã o e n ão s e i qu a l é a s u a in t e nç ão n es s e a s p ec t o . ” Esse professor refere-se à fragmentação das reportagens como forma de chamar a atenção do telespectador, e ele tem razão, pois 64 a TV, por questão de tempo, conforme Bourdieu (1997, p.19), por uma questão de objetividade, fragmenta a inform ação, desconsidera as nuances que a envolvem e justifica isso pelo fato de informar mais — para a mídia, o mais importante é a quantidade de informação e não a qualidade. “ Q u an d o s e mos t r a e se m pr e t r a z u m f un d o t e n d e nc io s o , is s o é ne g a t iv o, c o m c er t e z a. P or q u e a mí d ia es t á q u er e n d o mos t r a r o q ue e l a q ue r v e n d e r , o p r o d u t o q u e e la es t á t e o f e r ec e nd o , a ima g e m q u e e l a q u er p as s ar , e iss o n ã o é a r e a lid a de ” “ A mí d ia v e n d e u m p r od ut o , o s p r of iss io n a is qu e e s t ão a li t ê m u ma ide o l og ia . E n t ã o , a li é o u t r a e s co la a t é , e le s v ã o t r a n s m it ir os s e us v a lo r es q u e e les q u e r e m, p ar a e st a r e m pa ss a nd o a id eo lo gi a q u e e le s t ê m. ” “ A l ém d a r e a lid a d e q ue a t e le v is ã o m o s t r a s er m uit o d if er en t e d a r e a lid ad e q ue a g e n t e v iv e . O qu e s e mos t r a n a t el ev is ã o n e m s em p r e, e is s o a g e nt e p o d e d iz er q ue é u m p er c e n t u al m u it o a lt o q u e n em s e mp r e c o n d iz co m a r e a lid a d e. E nt ã o , a i dé ia e a im a ge m, iss o em t od os o s as p ec t o s s o c ia is, p o lí t ico s e ec o n ô m ic os , mo st r a m e xa t am e n t e o p e n s a m en t o d e q u e m e s t á v e nd e n d o a im a g e m, d e qu e m e s t á p a ss an d o o co nt eú d o q ue es t á se n d o ve ic u la d o. ” “Vender” parece ser a palavra-chave da indústria midiática, tudo é comercializável, inclusive a informação. De acordo com Moraes (1998, p.50), “a inform ação tornou-se fonte alimentadora das engrenagens indispensáveis à hegemonia do capital”. Como se viu acima, os entrevistados também chamam a atenção insistentemente para os interesses comerciais da mídia. “ e u a c h o qu e a mí d ia t r ab a lh a m uit o c o m a p ar t e do q ue e l es qu er e m. O q ue a mí d i a mo st r a p a r a a ge n t e n a t e le vis ã o a c a b o e e m t ud o m a is , s o m e n t e f u t e b o l, é d eb at e e m m e sa r e d o n da e v a i f al a n d o d e f u t e b o l, e la p o d e r ia f a z er u m p a p e l be m ma is p r o d ut iv o p ar a a E d uc a ç ã o Fí s ic a, de m o n st r ar a r e a lid ad e d a es c o la , q u al é a r e a li d a d e do p r of es so r , qu e m u it a s v e zes o p r of e ss o r t e m qu e s er u m m al a b a r ist a p ar a da r u ma au la , e o q u e e le s m o s t r ar a m aí é m uit o b o n it o , n u m lu ga r a o n d e vo c ê 65 t e m u m a c on d iç ã o e u ma e s t r ut u r a . ” Apesar do apelo desse professor, infelizmente, para a tel evisão comercial, reportagens com t eor educacional não vendem, não dão audiência. Essas reportagens existem, sim, mas nas TVs públicas, universitárias e comunitárias, que infelizmente não têm o mesm o alcance da TV comercial, atingem apenas a públicos localizados, sem contar a falta de divulgação dessas emissoras e desses program as. “ Ex e m p lo at é g r o ss e ir o, t in h a um a n o ve la q u e a m en in a us a v a a r ou p a mo s t r an d o p ar t e d o s ut iã de p o is t od o mu n do na r u a u s a n d o p a r t e do s ut i ã, c o is as q u e a p r in cí p io a g e nt e ac ha q u e o f im, é br e g a , é h o r r í ve l e é a t é v ul g a r . E u a c ho q u e a t e lev is ão in f lu e n c ia s im, t a n t o p a r a o q u e é bo m q u a n t o p a r a o q ue é r u im, ma s à s v e ze s m a is p ar a o q u e é r u im. ” Esse professor faz uma crítica bastante comum à influência exerci da pelos programas de televisão. Imitar o comportamento de um personagem de novela é, no caso específico da Educação Física, imitar o comportamento de um determinado atl eta, tanto no aspecto físico quanto no aspecto comportam ental. Quem não se lembra do corte de cabelo do Ronaldo, na Copa de 2002? Vários garotos logo cortaram o cabelo imitando-o, e mais recentem ente as pedaladas de Robinho, e os meninos tentando fazer o mesmo. Estes são apenas al guns exem plos; mas, se observarmos nossos alunos, l ogo perceberemos outros tantos. “ a t e le v isã o p as s a e s s a id é i a d e q u e é l in d o , e s ó v o c ê qu er e r , t e r v o n t a de , e na r e a li d a d e a g e nt e n ã o t in ha n e nh u ma p o s s ib il id a d e. E las m e pe r g u nt av a m: — Pr o f e ss or a, a on d e t e m a q u i g in ás t ic a o lí m p ic a ? E u n e m se i a q u i e m B r as í li a, p or q u e e u s o u n ov a e m Br a sí lia . Ma s e nf i m, e u se i qu e a li p o r p er t o n ã o t e m e m lu ga r n e n hu m. Eu a c h o q u e a t e lev is ã o t e m e ss e p o d e r d e c r ia r um a im a ge m, u ma r e al id a d e q u e v o cê q u e é , v oc ê a cr e d it a, e t e p as s a m a q u ilo de t an t o r e p et ir q u e v oc ê a c a b a a cr e d it a n do q u e é e v a i b us c a r , d e r ep e n t e vo cê s e de p a r a c o m u ma ou t r a r ea li d a d e . ” 66 “Eu t a mb é m ac r e d it o que a t e lev is ã o in f lu e n c ia t an t o p os it iv a m e n t e q u a nt o n e g at iv a me n t e , po r q u e e la t r a z p ar a q u e m a ss is t e , s e ja o al u n o o u pr of e ss o r , es s a ilus ã o me s m o de q u e e la p o de s e t o r n a r u m a g ina s t a, u ma n a da d o r a, u m g r a n de jo g a do r d e f ut e b o l, m a s a í é o p o n t o d o q u e o p r of es s o r p o d e us ar d es se t ip o d e c r í t ic a pa r a cr iar u m a l un o m a is c r í t ic o . ” Estas colocações reiteram o que dissem os anteriormente, quanto ao glamour que envolve o esporte e o atleta, e complementam com algo muit o importante, que é o fato de o professor através do debate, do ensino e da prática desportiva tornar o aluno um ser mais crítico e mais consciente. Para isso, conforme viemos afirmando, não se pode negar a realidade: a televisão está aí, todos têm acesso a ela, o que se deve fazer é a partir de suas contradições fomentar o debate em torno do seu conteúdo. Segundo Penteado (2000, p.113) “admitindo a concorrência como colaboração, algo que corre com, ou junto, ou no mesmo sentido, torna-se importante observá-lo naqui lo que constitui especificamente (ou poderia constituir) a sua contribuição ao trabalho”. E para fechar a análise em torno dessa quest ão, vejam os um último relato: “ P e g a n d o o g a nc h o d e s sa p ar t e d o F ut e b o l e t e nt a n do r es p o n d e r a o u t r a p e r g u nt a . D e o n d e v e m p r in c ip a lme nt e e ss e g o st o p or f u t e b o l? É a mí d i a q ue c o lo c a o qu e a n os s a c o le g a f a lo u. A q u e st ã o d a p e s so a c a r e n t e q u e m e lh or o u a v id a, q u e é m ili o n ár i o, q u e a n d a d e c a r r o im p o r t a do , s ó q u e e le s n ão mos t r a m q u e s o me nt e t r e ze p o r c e nt o d e jo g a do r e s p r of is sio n ais d e f u t e b o l g a n h a ac ima do s a lá r io mí n im o , e xist e m jo ga d o r es q u e ga n h a m c i nq ü e nt a , c em, d u ze n t os m il, m as a m a ior ia e sm a ga d o r a t em o s a lár io lá e m b a ix o. E u ac h o q u e e m c im a d is so a g e n t e p o de t r a b a l h a r a n os s a a u la p o r m e io d es s a s r e p o r t a g e ns , p e g ar u m g a nc h o d e ss e aí e c olo c ar p a r a e le s f a ze r e m as c r í t ic a s. — Es t á aí e vo c ês ac h a m q u e é t o do m un d o q u e c o ns e g u e ? P o d e pr a t ic a r o e sp or t e e, s e de r , v o c ê p o d e se r jo g a d o r , ma s n ã o q u er di ze r qu e v oc ê v a i jo g a r s om e nt e e m c im a d a qu il o, v oc ê v a i u sa r aq u ilo p ar a o s e u b e m- e st a r , p a r a o s e u la zer , p a r a o s eu c or p o e t o d a s as q u a lid ad e s q u e o s e s po r t e t r az. ” 67 Talvez este seja um dos grandes desafios dos professores, desmistificar essa falsa impressão de que o esporte de alto rendimento é para todos, que todos os atletas ficam muito ricos. Há nessa questão algo que j á discutim os e retom amos agora, que é o fato de alguns garotos investirem todas as suas forças numa carreira de atleta profissional, desconsiderando outras possibilidades. Em caso de fracasso, porém, têm que lidar com frustrações, decepções, além do risco de serem iludidos por falsos empresários e levados para o exterior a troco de falsas promessas. Por fim vamos comentar a solicitação feita aos professores entrevistados para que com parassem a primeira com a segunda reportagem. Cabe ressaltar que esta questão foi apresentada apenas para os grupos 1 e 2; para o grupo 3 não foi possível, por falta de tem po. Destacamos para análise os trechos abaixo t ranscritos: “ Na pr im e ir a r e p o r t ag e m o c e n ár io já e st á mo n t a d o , a s m o d a lid a d e s d es e n v olv id a s já e st ã o e m lo c a is a d e q ua d os , c om m at er ia is ad e q u a d os . N a se g u n d a r e p or t a g e m, e les t e nt a m s e ns ib iliza r p ar a a p ar t ic i pa ç ã o d a c o mu n ida d e e s c o la r n a co ns t r u ç ã o d a q u a dr a e f az e nd o b a s ic am e nt e u ma in v er s ã o de va lo r es , qu e s er ia su bs t it u içã o d e ju s t iç a s o c ia l p o r ca r id ad e. ” Esse professor consegue fazer um a distinção bem técnica sobre as duas reportagens. O esporte tem a característica importantede ter um cenário montado, de fácil entendimento o que facilita sua leitura pela TV. Sobre o cenário pronto do esporte, Pires (2002) acrescenta que: At u a lm e n t e o e s p or t e p ar e c e s er e sp et a c u la r iz a ç ã o na mí d ia o p ar c e ir o p r ef e r e nc ia l d a t e lev is iv a po r q u e o f er e c e, em c on t r a p a r t id a, o s ho w já p r o n t o . O c e n ár io, o r o t e ir o, os a t or e s, os e sp ec t a d o r es e at é os ( t e le ) co mu n ic a d or e s es t ão a nt e ci p a d a m en t e g ar a n t id os , o qu e f a c i lit a a su a t r a ns f o r m aç ão em p r od ut o f ac ilm e nt e co m er c ia liz a d o / c on s u m id o em es c a la 68 g lo b al. O es p et á c u lo es p o r t iv o , em c o m p ar a ç ã o co m ou t r os e ve nt o s c u lt u r a is c o m o o c in e m a e o t e at r o , c er t a me nt e ap r e s e nt a a lg u mas ca r a ct e r í s t ic as d if er e nc ia do r as , mas é in t er e s s a nt e o bs er v a r co m o b o a p a r t e d es s as d if e r e n ç a s ag e m a s eu f a v o r , ist o é , co n t r ib u e m p a r a a s ua bo a a c e it aç ã o e a b so r ç ã o m u n d ia li za d a . Um a d e la s é a u n iv e r sa liz a ç ã o d e su a lin g u ag e m, is t o é, o r e co n h ec im e nt o d a s u a o p e r ac io n a li d a d e , n o r mas e c ó d ig o s , e m v ir t u de d a u n if o r mid a de d e se u f u n ci o n a me nt o, im p o st o p e la s e nt id a de s qu e o c o m a nd a m. ( p. 9 0) Ainda comparando as duas reportagens, outro professor comenta: “ O lh a s ó q u e i nt e r e ss an t e . V oc ê v iu u m a r e p o r t a g e m d e q ua s e de z m in ut o s , o n ze , f a la n d o d e e st r u t u r a e u m a d e q u a t r o f a la n d o d e c o m o s e f a ze r es t r u t ur a d a es c o la p ú b lic a. Q u er d i ze r , e le s c o l oc am de z o u o n ze m in u t os pr a g en t e d ize n do q u e o e sp or t e é lin d o , é m ar a v ilh os o , a e s t r ut ur a é e s sa e d e p o is e les f a ze m u m r e p or t a g e m me n o r d ize n d o q u e n ã o t e m de s c u lp a d e e s p a ç o e v oc ê s t ê m q u e c o r r er a t r á s. É u m a bs ur d o. ” É este o paradoxo que se vive: de um lado projetos de sucesso, financiados por entidades ou empresas privadas e com um grande espaço na TV, e de outro a com unidade tendo que conseguir com seu esf orço própri o uma infra-estrutura mínima para a prática de esportes no ambiente escolar. “ E u v e jo o s e g u int e . N a p r ime ir a r e p o r t a g e m há u m a ê nf as e m u it o g r a n d e n o r e s u lt a d o ime d i at o e q u e o e s p o r t e é a s o luç ã o , e n a se g u n d a r e p o r t ag e m, q u e d ev er i a t a m b é m d ar u m f oc o ma io r , p o r q u e f o i u m a co n q u is t a d e a lg u m s eg m en t o a li qu e me s m o s e m c on d iç õ es e s e m e s t r ut ur a , mos t r a r a m q u e ha v i a n ec es s id a d e d a q u e le es pa ç o e q u e a t in g is s e n ão só o c o r p o d oc e nt e , m as t a m b é m o s f u n c io n ár io s e os s er v id or e s. O u s e ja, a q u ilo q u e e les f iz e r a m p as so u a s er u ma ut i lid a d e p ar a a c o mu n id a d e. N ão er a u m a c o is a pr o nt a , c o m o ex is t ia n a pr i me ir a r e p o r t a g e m, o nd e s o m e nt e ia m p ar a r e so lv er t od as a s ma z e la s s oc ia is. 69 “ P e r c e b i n a r e p o r t a g e m um a d if er e nç a d e e n f o q u e . P r im e ir o o es p or t e c o m o u m t o do , q u e lev a o jo v e m a d e se nv o lv er c a p ac id a d es d e a p r en d i za g e ns , de me l h o r ar a s u a c on d u t a , as s u a s a t it u d es e a in t er e s s a r - s e ma is p e lo s e st u d o s . O o u t r o e n f oq u e é o e nf o q u e d o es p o r t e e d u ca c io n a l, o nd e a in s t it u iç ão bu s ca d es e n v o lv e r as mo d a lid ad es e sp or t iv a s , t ê m d if ic u l da d e s d e f a t o p or q u e é es s a r e a lid a de q ue viv e m os na r e d e p ú b lic a, is so é s u m á r io , e a ge n t e p r ec is a g r it a r p or q u e n ó s n ã o t e m os a e s t r ut u r a e n e m co n d iç õ e s . A p r óp r ia r e p o r t a g e m m o s t r a q u e a e s c o la t e ve q u e sa ir do s e u e sp aç o , d o s m u r os in t er n os da es c o la , p a r a o c u p ar u m á r e a f or a da es c o la , b us ca r p ar c er i as c o m ins t it u iç õe s pa r a r ea liz a r no q ue er a u m es p a ç o c o mu m c om a c om u n id a de . . . v o cê s p e r ce b e r am q u e o s pr ó pr ios f u nc io n á r io s d a es co la c om e ç a r a m a u t ili za r a q u e la pist a co m o u m e l e me nt o d e b u s c a d e s a ú d e c om a c a m in h a d a . E c er t a me n t e a p r ó p r ia c o mu n id a de , co m o a ár e a é e xt e r n a e f a z p a r t e da pr ó pr ia c om u n id a de , e la t a m b é m ut iliza r ia e s s e es p aç o. E ss a é a r e a lid a d e q u e a g e nt e v iv e h o je na e sc o la, n ós não t em o s co nd iç õ e s h o je de e s t a b e le c e r , po r ex e m plo , mo d a lid a d es es p or t iv a s de nt r o d a a u la d e E d uc aç ã o Fí s ica , pr i m e ir o o e s p a ço qu e a g e n t e t e m n ão é a p r o p r ia d o , o t em p o q u e a ge nt e d is p õ e p ar a a au la é p o u co , n ã o d á p ar a v oc ê r e a l iza r u m t r a b al h o d es s a n a t ur e z a, e x is t e m e ss a s sit u a ç õe s e es s as c on ju nt u r as . A r e p o r t a g e m m os t r a es s es d o is e n f o q u e s , u m a r e a l id ad e o n d e os c lu b e s, o s es p aç os q u e po d e m s e r o f e r e c id os p ar a os jov e n s q u e t ê m u ma c er t a d if ic u ld a d e d e s o c ia li za çã o , e le e nc o nt r a is s o, e o o u t r o é o e s p aç o d a e sc o l a, es p a ç o e d u c a c io n al, de e d u ca çã o so c i a l e educação f or ma l d es e n v o lv id a p e la p r ó pr ia e sc o l a. ” “ A r e p o r t a g em c o me ç a d a nd o u m en f o q u e na E du c aç ão Fí s ic a co m o p r o m o çã o d e s aú d e , c o m o p r o mo ç ão c o mo a q u e la c r ia n ça q u e v en c e , aq u e la c r ia n ç a q u e v a i s up er a r ob s t ác u l os , e l og o d e p ois v e m o e n f o q u e d e q u e n ã o s e p o d e o f er e c er u ma mo d a lid a d e p a r a a c r ian ç a, q ue t e m qu e s er o f e r ec id o m u it as c o is a s, a c r ia n ç a v a i c am in h ar , v a i c a mi nh ar e ela v a i e sc o l h e r a lg o q u e d e p o is e la v a i c o n t in ua r . J á na p er if e r ia v oc ê ob s e r v a q u e o e n f o q u e n ã o é es s e, n ó s t iv em o s co n d iç õ e s d e f a ze r u ma p is t a c o m iss o, e c o m is s o, e n t ão , e les v ã o f a zer a t le t is mo . O en f oq u e é o u t r o, q u e r d izer , s e v o c ê t e m ba s t an t e din h e ir o e p o d e of er e c e r é ót imo , o e n f o qu e é e ss e, vo c ê o f er e c e e d e ix a o s e u f i lh o es c o l h e r , e n a p e r if e r ia n ã o é a ss im, e u p u d e o f e r e c e r is s o, e n t ã o v oc ês v ão f a z er iss o. ” Todos esses depoi mentos conseguiram com clareza distinguir 70 diferenças entre as duas reportagens. Essa percepção é muito importante para o professor, princi palmente quando se pensa na perspectiva de um estudo sistem ático da mídia, pois um professor que não tenha ess a percepção, que estej a despreparado para conhecer a mídia em sua essência, ou mesmo que tenha um a visão simplificada ou acrítica da mídia terá grande dificuldade de desenvolver esse trabalho em sua sala de aula. Penteado (2000, p.155) postula que o desafio de se desenvolver uma Pedagogia da Comunicação passa necessariamente: • pela adoção de um a determinada pedagogia, pelo profissional professor, que não se dá a partir de norma ou decreto, mas de uma comunhão de valores sobre o ser humano, dotado de capacidade de significar-se e produzir conhecimento; • pela intelecção e aprendizagem do processo de comunicação humana (no qual se l ocaliza o processo didático), o qual supõe estudos que podem ser definidos num currículo, mas não se esgotam neles; • por vivências e experiências que intensifiquem a relação teoriaprática-teoria, no aprendi zagem, e processo que de configuram conhecimento um a dada e de ensi no- compreensão do processo. Portanto foi possível perceber nos depoimentos um a certa capacidade decom prensao das mensagens televisivas no sentido de produzir conhecimento, isto conforme citado acima por é essenci al na Pedagogia da comunicação. Destacamos, por fim, o trecho abaixo, que, em bora não respondesse diretamente a mediador, merece destaque: nenhuma das questões colocadas pelo 71 “ E u v ou a lé m. Q u a n d o h á a lg u ma q u e s t ã o d e r e p o r t a g e m ma is t é c n ic a, o pr of iss io n a l d e E d uc a ç ã o Fí s ica n ã o é p r o cu r a d o, p r o c u r a - s e u m f is io lo g is t a , pr o cu r a- s e u m ex a t le t a, m as n ã o p r o c u r a - s e o p r of iss io n a l de Ed uc a ç ã o Fí s ic a . En t ã o, pr o c ur a - s e q u a lqu e r u m, at é o m o m e n t o d a e s c o la e le s p r oc u r a m, ma s n ós r ar a m e n t e d am o s a n os s a o p in iã o t éc n ic a e m t el ev is ão o u e m jo r n a is . Q u em a s sin a es s e t i p o d e r e p o r t a g e m é o Ps ic ó log o , ele s c h a ma m o Ps ic ó l o g o p or q u e es c r ev e u u m livr o , e les c ha m a m u m f is io lo g is t a qu e es c r ev e u u m o u t r o liv r o, um m é d ic o d e s p o r t is t a, m as e les r a r am e nt e c h a m a m u m p r of iss io na l d e E d u c a ç ão Fí sic a . ” Esse relato demonstra a pouca visibilidade que o professor d e Educação Física tem na mídia; normalmente ele é visto apenas como um executor de aulas, pouca voz lhe é dada para fal ar sobre sua criatividade, para emitir suas opiniões. Isso porque o esporte (que conta com atletas conhecidos) dá mais audiência do que um professor que desenvolve um excelente trabalho ou um pesquisador da área que fez um a pesquisa interessante, mas que são desconhecidos do grande público. 72 Conclusão A partir dos depoimentos obtidos nos grupos f ocais e do material bibliográfico pesquisado, foi possível perceber que há, por parte dos professores de Educação Física pesquisados, atuantes em escolas públicas do DF, uma apropriação crítica das m ensagens esportivas veiculadas pela televisão. Tal postura crítica possibilita a inserção no espaço escolar do tem a mídia, e mais especificamente da televisão. As teori as apresentadas ao longo do texto, sobretudo nos capítul os 1 e 2, como base de sustentação da relação entre televisão e esporte, nos permitiram mapear possibilidades de análise da referida relação no espaço da escol a. Desse modo, as contribuições de alguns autores e os depoimentos dos professores permitiram dar visibilidade à ideologia embuti da no interior do discurso midiático para as mensagens tel evisivas a cerca do esporte. No que se refere aos relatos dos professores, percebeu-se que alguns já vêm desenvolvendo a discussão de programas televisivos acerca do esporte em suas aulas de forma crítica, porém de um a maneira ainda isolada e pontual. Desse modo, sugere-se a necessidade de um a metodologia sistemati zada do estudo da mídia, incl usive com o desenvolvimento de projetos políticos-pedagógicos que incluam outras disci plinas, que promovam a interdisciplinaridade. Diante da ideologia imbutida nas mensagens da televisão acerca do esporte e das contradiçoes encontradas no tem a, percebe-se que é possível algum a form a de superação do discurso dominante, na prática da Educação Física escolar, mesmo considerando os discursos em torno do esporte da alta-competição e sua grande difusão midiática. O que não se pode é maquiar ou falsear a realidade: é preciso, isso sim, manter um olhar atento e crítico ao fenôm eno esportivo conforme 73 veiculado pela mídia — que, com o sabemos, é regida pela lógica do capital. Por meio de uma perspectiva crítica, pode-se desconstruir essa lógica de dominação e buscar a superação da ideologi a do esporte de rendim ento no ambiente escolar. O esporte de segue a lógica da mídia — e, portanto, a lógica do capital —, sendo um fenôm eno excludente quando praticado como esporte de rendimento ou esporte-espetáculo. Não podemos, no ambiente escolar, reproduzir o discurso de que o esporte de rendimento em si seria meio de interação social, em ancipação, construção de valores, conforme diversas vezes vemos nos programas televisivos sobre esporte. Os diversos relatos dos professores nos grupos focais mostraram que el es possuem um pensamento crítico em relação à TV, em bora às vezes cont raditório, ou mesmo reprodutor. Mas não podemos desconsiderar que todos nós estamos suscetíveis às influências do capitalismo, da indústria cultural, dos meios de comunicação de massa, da globalização, pois estamos inseridos no meio social. Do conteúdo televisivo, mesmo o comercial, é possível extrair algo positivo, como por exem plo, as reportagens de cunho denunciativo, program as de divulgação cultural, musical e outros. Nossa crítica vai, principalmente no campo da mídia esportiva, à exacerbada comercialização em torno do esporte, em detrimento do esporte de participação; à exagerada valorização dada a determinados esportes e atl etas, enquanto outros ficam à margem da divul gação; à intensiva atribuição de importância a valores típicos da sociedade capitalista, com o a com petição, o rendimento, a técnica, a busca excessiva pelo sucesso. Conforme citamos no inicio do texto, pesquisa no tem a mídia é algo recente no campo da Educação Física, tendo se iniciado a partir da década de 1990. A partir deste estudo foi possível observar inclusive que o tem a ai nda tem um am plo campo a ser explorado, podendo ser 74 pesquisado por outros ângulos, como, por exemplo, pelo olhar dos alunos. Também podem ser realizadas pesquisas sobre o m esmo tem a com outras metodologias, como a observação participante, estudos de caso, dentre outros. Há ai nda outras possibilidades, como o estudo da mídia esportiva impressa, de filmes que têm o esporte como tema central, o estudo da programação dos canais excl usivos de esporte nas TVs pagas; a predominância de um determinado esporte na TV, como é o caso do futebol no Brasil, etc. Cabe aqui também ressaltar que no ano de 2007 foi incluído no curso de Mestrado em Educação Física da Universidade de Brasília o tem a Mídia, Educação e Educação Física, i nserido na linha de pesquisa Esporte e Educação Física Escolar, com um a vaga, aumentando na seleção de 2008 para três vagas. Isso certam ente ampliará o leque de possibilidades e oportunidades de pesquisa nessa área dando oportunidade ao surgimento de novas idéias e diferentes visões dos diversos pesquisa. pesquisadores que pretendem se inserir nesse campo de 75 Referências ADORNO, Theodor & HORKHEIMER, Max. Dial ética do Escalrecimento. Rio de Janei ro: Zahar, 1985. ASSIS, Sávio. Reinventando o Esporte: possibilidades pedagógica. 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